Estando longe de Portugal, da família e de muitos amigos, longe dos nossos ingredientes e dos nossos costumes, muitas vezes os dias que são especiais para os portugueses passam-nos despercebidos. Não é que não nos lembremos ou não nos identifiquemos com eles, veja-se o 25 de Abril ou o 10 de Junho; mas esses dias, por cá, não são feriado. E por não termos filhos – especialmente em idade escolar – há muitas tradições que acabam por se perder. Os nossos dias – os nossos anos! – acabam por ser um pouco… “planos”.
Li em qualquer lugar que os anos passam mais depressa se não quebrarmos a rotina com celebrações, acontecimentos ou viagens; no fundo, se não tivermos algo específico para recordar.
A nossa família de dois precisava, portanto, de tradições: não só para nos lembrarmos dos dias e dos anos, como também para nos sentirmos mais enraizados, onde quer que estivéssemos. E daqui nasceram as tradições que fomos criando para nós, os projectos e desafios que nos vamos fazendo, cujo progresso desfrutamos e aplaudimos. Duas dessas tradições, que aqui partilharei, relacionam-se com algo que é tão português: a comida e o prazer da mesa.
Quando nos mudámos para o Panamá, fez agora dois anos, comecei a tradição de fazer um bolo ao fim-de-semana. A minha justificação, na altura, era que uma casa fica mais lar com cheirinho a bolos no ar. Rima e é verdade. Daí a nos habituarmos a ter um bolinho caseiro foi um saltinho. Há favoritos, com o lugar cimeiro da tabela a pertencer indiscutivelmente ao bolo de chocolate, confeccionado com um pequeno tijolo de cacau de agricultura biológica que pedimos directamente ao produtor.
A outra tradição, que também é um desafio que nos propusemos para 2012, é a de experimentarmos um prato novo por semana, cozinhado alternadamente por cada um de nós, e surpresa para o outro. O único requisito é que seja retirado de um dos vários livros de receitas que aqui temos. O almoço de Domingo é, portanto, rodeado por uma aura especial: um prato novo, às vezes de inspiração portuguesa, é um prazer que só temos pena de não partilhar com mais alguém. Porque estar sentado a uma mesa cheia de gente de quem gostamos, a conversar sobre comida, com um prato à frente… é tão bom.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)