Viajámos entusiasticamente até Helsínquia, cheios de vontade de conhecer esta cidade e curiosos em relação aos finlandeses. Os poucos finlandeses que tínhamos conhecido até então eram pessoas fechadas, com uma forma de relação incompreensível para nós, que nos transmitiam um sentimento estranho de inacessibilidade. Com este preconceito na cabeça, estávamos expectantes para ver o que íamos encontrar…

Com um sol radioso a levantar-se às quatro da manhã, mesmo com as grossas cortinas do quarto da Pousada, não conseguíamos dormir até tarde. No primeiro dia, saímos cedo e fomos explorar esta cidade cheia de cor. Quando chegou a fome, entrámos num café com um ar agradável e com tudo escrito em finlandês.

A menina atrás do balcão falava inglês (quase todos os finlandeses falam): traduziu-nos o menu, fizemos o nosso pedido – uma saborosa sopa de salmão e uma salada – e pagámos. “Thank you”, disse-lhe eu; a sua resposta “”Thank you; or should I say Muito obrigada?”. Eis senão quando, descobrimos que tínhamos à nossa frente uma portuguesa! Pai português, mãe finlandesa, nascida e criada na Suíça. Considera o francês a sua língua materna, fala fluentemente finlandês e bastante bem o português, também fala inglês e desenrasca-se no alemão (e se calhar noutras línguas). Enquanto comíamos, conversámos longamente com Katy e pasmámos todos com a enorme coincidência de termos entrado precisamente naquele café.

Parece-me que a principal exportação dos portugueses tem sido o sangue: – há filhos de portugueses espalhados por todo o mundo, sangue português cruzado com todas as outras nacionalidades.

Ah, e já agora! Os finlandeses são agradáveis, prestáveis, simpáticos, conversam facilmente com estranhos, e falam imensas línguas. E fiquem sabendo que os finlandeses são nossos fãs, muitos daqueles com quem falámos já tinham estado em Portugal e apreciam as nossas praias, a nossa comida, e o vinho, claro.

(Texto e fotografia: Ana Teresa Vale)