O meu computador faz sete anos esta semana. Se fosse um pequeno humano, já estaria na escola. Não é, e por isso já vai a caminho da reforma. Os anos de computadores calculam-se como os anos caninos, mas em vez de os multiplicarmos por sete, proponho que nos computadores o factor multiplicativo seja de dez. O meu computador, cumpre, então, setenta primaveras esta semana. E sabem que mais? Ainda processa, e bem.
Depois de o comprar, há sete Verões atrás, os anos foram passando e a vontade de mudar de máquina, em vez de crescer, diminuiu. Cada vez me afeiçoei mais a este computador e só de pensar em trocá-lo dá-me preguiça. Já para não falar no investimento necessário. Ele já me conhece, e eu já o conheço a ele. Damo-nos bem, cooperamos: eu dou-lhe o que ele precisa, ele dá-me o que eu preciso. E já conhece todas as minhas preferências.
A longevidade do meu computador fez-me pensar que a idade, a experiência e a confiança que nele tenho podem ser uma metáfora para uma camada da nossa população activa. Penso especificamente nas pessoas mais velhas, que são dispensadas devido à sua idade. Ou nas mulheres mais novas, que são velhas a partir de meados da década dos trinta, e que já não conseguem mudar de emprego. Que estupidez. Estas pessoas “velhas” – tenham a idade que tiverem – são pessoas com a experiência e a maturidade que os mais novos, por definição, não podem ter. São pessoas que conhecem o mundo e a sua área de trabalho e que podem ser um valor precioso para qualquer empresa.
Existe nesta nossa sociedade um apetite voraz pelo novo, pelo mais recente, o mais imediato, que nos tende a afastar de valores antigos, talvez mais genuínos, muito provavelmente mais baratos e com menos impacto no ambiente. Longe vão os dias passados com a minha avó a apanhar as malhas caídas no cachecol que eu tricotava. Hoje as crianças brincam com tablets, fechadas em casa.
Mas nem tudo é negro: a minha sobrinha mais velha já aprendeu a tricotar, e malha a malha, volta a volta, vai fazendo o seu cachecol. Da mesma forma vejo as retrosarias antigas com gente nova, e eu queria, porque queria mesmo, aprender bordado de Castelo Branco. Alguém sabe onde?
Todas estas elucubrações vieram a partir do sétimo – ou septuagésimo – aniversário do meu computador. Que tenha uma vida longa e que me liberte da voracidade tecnológica, para eu ter mais tempo para conversar, desenhar, bordar e tricotar.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)