Como não vejo televisão, informo-me através da imprensa escrita e das redes sociais. Na imprensa escrita leio a opinião de alguns; nas redes sociais, as opiniões de todos.
Pasmo com os comentadores nas redes sociais. Queixam-se da “tristeza de país em que vivemos”, do fatídico “país que merecemos” e indigno-me com estas respostas já lidas e relidas cinquenta mil vezes. Por favor: inovem.
Não é triste: é tristíssimo que sejam já cinco os bombeiros mortos este ano. É tristíssimo vermos hectares e hectares de floresta ardida. É horrível saber que as chamas ameaçam parques naturais e zonas urbanizadas. Qualquer morte é demais; qualquer desalojado pelo fogo era dispensável.
Mas triste, também, é fazermos exactamente o que sempre fizermos e querermos um resultado diferente.
Dizermos que este é um país triste porque tem incêndios florestais demonstra uma imensa falta de informação: neste momento lavram inúmeros incêndios por esse mundo fora, nomeadamente em países desenvolvidos (vejam o incêndio no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, onde vivem sequóias gigantes com milhares de anos).
Não há dúvida de que há incendiários por esse mundo fora; mas e os outros fogos? Os que são causados por negligência? Os que são potenciados pelos clima extremo, e este pelo fenómeno do aquecimento global?
Até quando vamos encolher os ombros e falar da tristeza do país sem fazer absolutamente nada para mudar a situação? Até quando vamos continuar a atirar beatas pela janela do carro? A deixar lixo atrás de nós? A não exigir dos nossos políticos um plano real de combate aos incêndios?
(Por que será que na altura das eleições nunca nos lembramos de tal coisa? Será porque são fora do Verão?)
Quando é que vamos ter a coragem de exigir que o exército vigie as florestas e acompanhe os bombeiros no combate às chamas? Quando é que vamos ter a coragem de ocupar os desempregados que recebem subsídio de desemprego, pelo menos em tempo parcial, na limpeza preventiva das matas?
Paremos de encolher os ombros e ajamos decididamente: os bombeiros precisam de meios e de pessoal; conheçamos a floresta e informemo-nos sobre as espécies endémicas e as suas resistências ao fogo; utilizemos as próximas eleições para exigir planos preventivos, não de contingência; façamos a nossa parte para diminuir a produção de carbono (por exemplo, deixar o carro em casa ou partilhar boleias).
Há muito, muito que todos podemos fazer. Que acção concreta vão tomar hoje?
(Texto: Ana Isabel Ramos, Imagem: Diário Digital/ Lusa)