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Hoje, transcrevo as palavras de outros, não por não ter palavras próprias mas por estas revelarem uma preocupação e uma verdade que não necessita de acrescentos ou de interpretações porque é isto, é mesmo isto que por vezes se perde em Portugal, é mesmo isto que muitas vezes fazemos em Portugal. Matamos aos poucos a nossa personalidade, a nossa unicidade, afastando-nos das coisas mais ricas que temos. Vendemos um falso Portugal, como se de um falso self se tratasse… Portugal deixa de ser o que é na sua essência a passa a ser uma outra coisa… desgarrada…

Ainda ontem lia na montra de um restaurante aqui por Lisboa: “Temos peixe à portuguesa!”… o que quer que isto signifique. Um turista talvez entre e prove o tal peixe e lhe saiba mesmo a Portugal, um viajante talvez procure perceber o que é isto de peixe à portuguesa, um português talvez passe ao largo e não questione a táctica parva de um restaurante vender um pouco mais de um falso Portugal.

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Deixo as palavras de Miguel Godinho, do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela para o livro do Projecto TASA:

” A vida no Algarve, como em muitas outras regiões, modificou-se por completo. A morte dos velhos mestres e a falta de interesse das gerações mais novas (porque enquadradas num novo mundo) foi desbaratando progressivamente a identidade cultural e social do território que, diga-se de passagem, não soube comunicar a este novo mundo a sua verdadeira e muito antiga identidade. Passou-se quase em exclusivo a direcionar as políticas no sentido de servir unicamente o turista, muitas vezes desinteressado, tantas vezes mal informado. De repente, de uma sociedade ruralidade e artesanal, passou-se a uma sociedade estereotipada e folclorizada. Muitas das instituições com funções na área da representação e potenciação da cultura regional guiam-se por ideias importadas a partir de zonas que nada tinham a ver com este território, julgando estar a oferecer aquilo que os turistas procuravam encontrar, vitrinizando as nossas pessoas, as vivências e o objeto.”

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Institucionalizou-se a cultura em detrimento dessas vivênciasdesresponsabilizando progressivamente o indivíduo enquanto entidade transmissora dos costumes, dos valores e das tradições a favor de um Estado paternalista que julgava saber o que estava a fazer, resultando isso na incapacidade de transformação e de reinvenção das pessoas e, muito em concreto, do objeto e do saber artesanal.”

“É certo que, olhando para a realidade dos nossos dias, o artesão hoje encontra entraves concorrenciais, burocráticos e legais que não se coadunam com a sua competências produtiva e visão estratégica, tornando muito difícil a sobrevivência da sua atividade profissional, mas isso não deve significar que, sentindo-se o mesmo aprisionado por estas condições, não procure novas estratégias no sentido de contornar constrangimentos e inventar novas saídas.


Raquel Félix – Portugalize-me/ Fotos: Projeto TASA