Folheio os jornais digitais e duas notícias prendem a minha atenção: a notícia de mais um discurso do nosso Primeiro-Ministro e a da proposta de alteração da legislação feita pela Dinamarca e pela Noruega, para que seja permitida a adição de polifosfatos no nosso fiel amigo, o bacalhau.
Entendo que a comunicação aos portugueses pode parecer ser mais importante. Mas não o é: “austeridade, austeridade”. Em nome da austeridade, lá se vão comparticipações em medicamentos e tratamentos; lá se vão feriados, férias e indemnizações em caso de despedimento. O rol é longo, mas como diz o povo: “vão-se os anéis, fiquem os dedos”.
Ora os dedos, neste particular, são a saúde, o sol, o mar, a nossa paisagem, o nosso clima abençoado, as nossas cidades bonitas. Mas sobretudo, e acho que nisto todos concordamos, a comida.
E quem ousar mexer no nosso bacalhau, o fiel amigo, o de tantas receitas quanto os dias do ano, mexe connosco, com o ser português.
Aparentemente, a fonte do tão apreciado alimento (leia-se, Noruega) quer poder adicionar legalmente polifosfatos ao nosso bacalhau à lagareiro. Perguntam vocês: que são polifosfatos? Pois eu também não sei; do que li, aumentam o conteúdo de água nos tecidos, o que é precisamente o que um bacalhau salgado não quer. E nós, pensando bem, também não: nós queremos bacalhau a saber, lá está, a bacalhau, não a maçã aguada.
De maneira que, em vez de chorarmos sobre mais uma caneca de leite – azedo – derramado, pensemos no futuro do nosso bacalhau, que se quer salgado, depois demolhado e bem confeccionado.
Só faltava agora vir a troika – ou outros por ela – e levar-nos isso…
(Texto: Ana Isabel Ramos)