Hoje, a primeira coisa que fiz quando me levantei foi escrever uma memória, à qual chamei de memória de conforto, e escrevi: “Inverno, sair da escola a correr, chegar a casa, sentar-me à lareira e comer uma malga cheia de estrelitas com leite.”
O dia de hoje nasceu invernoso e da janela vinham indícios de um dia frio, apresar de não saber ao certo que temperatura fazia lá fora e de não estar particularmente com frio. Certo é que me veio à memória um lugar que tantos anos me acolheu, a lareira com a malga quente. Fiquei deitada no sofá a recordar minutos a fio aquele momento quente vindo do passado e a olhar a chuva na rua. Que conforto! Que regalinho, como diria a minha avó…
Depois do calor veio a memória do cheiro da lenha queimada, a ela, outros cheiros começaram a surgir… o cheiro da frescura do inverno rigoroso da beira alta, o cheiro da borracha das botas para a chuva, do aquecimento a nafta da escola, do papel dos livros… da cortiça das salas de aula. Que cheiro bom o da cortiça. Cheiro quente e acolhedor onde dá gosto estar. Soa estranho, mas acho que o cheiro a cortiça contribuiu bastante para o meu sucesso escolar, em especial, para a minha concentração e vontade de regressar todos os dias àquela sala de aula.
Partilho convosco o meu último achado… um pedaço de cortiça aglomerado igual à da minha escola primária que consegui trazer de um evento em Abrantes (Sofalca – Isocor). Confesso que estou a cheirá-lo neste preciso momento…
A cortiça, matéria tão portuguesa que tem vindo a ser ampliada por gente que lhe descobre um potencial diferente. Não pára de surpreender. Não é só a sala de aula ou as rolhas, agora são os móveis, os sapatos, a roupa, os guarda-chuvas… É a cortiça, a dar cheiro e conforto ao mundo!
(Texto: Raquel Félix – Portugalize.me – Fotos 1 e 3: Sofalca/ Foto 2: Raquel Félix)