Há nove meses atrás, descobri, com um misto de surpresa, choque e muita alegria, que a cegonha vinha a caminho. Umas semanas mais tarde, descobri que a cegonha não só vinha a caminho, como também vinha carregada: trazia dois embrulhinhos, dois!, para alegria de toda a família.
Entre o choque, a preocupação e a alegria, os meses foram passando e rapidamente nos encaminharam para a instituição que é considerada o estado da arte em Portugal, o lugar ideal para uma gravidez que, por ser de gémeos, é de alto risco. Pouco tempo depois estava integrada na Maternidade Alfredo da Costa, a instituição que só quem nunca frequentou, nem nunca viu o serviço que presta à comunidade, pode equacionar fechar.
O pessoal da Maternidade presta um verdadeiro serviço público: desde médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, pessoal auxiliar; todos atendem com um sorriso, uma palavra de simpatia, ou pelo menos de empatia para com as pacientes. Apesar de terem visto os seus salários cortados talvez pela metade, dir-se-ia que aquelas pessoas têm realmente um sentido de missão; ou então são verdadeiramente apaixonadas pelo que fazem.
A Maternidade não atende só grávidas: atende também casais inférteis, atende mulheres de todas as idades, desde as mais jovens até às mais velhas. Depois de a frequentar assiduamente, parece-me próximo do imbecil querer encerrar uma unidade de saúde dedicada à mulher, já que ali existe um conhecimento específico – e um ambiente específico, também – que se dilui num hospital geral.
Por estar grávida, gozo de um regime de isenção. As cinco ecografias gemelares que fiz, as várias análises clínicas e estudos histológicos que lá fiz foram totalmente gratuitos. Quero dizer: gratuitos para mim, naquele momento, já que são pagos por mim e por todos os contribuintes que pagam os seus impostos. Não senti nem uma contenção de gastos, evitando ou não me propondo exames que a equipa médica considerava essencial, nem um desperdício de recursos públicos. Quando necessário foi, encaminharam-me para consultas de especialidade.
Chegou o momento em que me foi diagnosticada uma diabetes gestacional; nesse mesmo dia fui encaminhada para as consultas de nutrição e endocrinologia. Saí de lá abananada, mas acompanhada e muito vigiada. O resultado foi o melhor possível, já que com uma dieta rígida mas correcta, e uma vigilância constante por parte de toda a equipa, chego ao final da gravidez com uma saúde de ferro e todos os valores controlados.
Não sei se se percebe, pelas minhas palavras, a gratidão que sinto por viver num país que põe à disposição dos seus cidadãos um serviço assim: completo, global, atencioso. Nas salas de espera há gente de todas as cores e estratos sociais. Não é difícil imaginar a tragédia que seria para muitas daquelas pacientes se a maternidade fechasse. Ou se a saúde deixasse de ser pública, para ser exclusiva a quem a ela pode aceder.
É por isso que defendo o nosso serviço nacional de saúde, elogio todo o pessoal que me tem acompanhado e, chegada a hora de pagar o IRS, o pago com um sorriso. É (também) para isso que serve, e se todos contribuirmos, todos pagaremos menos.
Deixo aqui o meu agradecimento a todo o pessoal que me tem acompanhado. Agora que a população lá de casa vai duplicar, vou-me dedicar um pouco menos à escrita e um pouco mais às fraldas. Até breve!
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos para o Portugalize.Me)