Aqui há dias, a propósito das declarações desastradas de Isabel Jonet, falei de Victor Papanek, designer e filósofo cujo pensamento muito me marcou. Este designer defendia a aquisição de serviços, em vez de bens, e que para isso o equipamento devia ser desenhado para a durabilidade. Como consequência, os objectos por ele desenhados tinham um desenho modular, para que a reparação ou substituição de uma das peças, se necessária, fosse fácil; e para que a separação para reciclagem, no fim da vida útil, fosse possível.
Agora que se aproxima o Natal, e com ele a necessidade – ou vontade – de oferecer alguns presentes, penso que é ainda mais pertinente ter em conta estas ideias de Papanek, sobretudo em momentos de crise como aquele que vivemos. Vale a pena oferecer menos presentes, mas investir ou em experiências ou em objectos feitos para durar.
Aqui entram também os presentes que são feitos à mão, sejam por nós próprios, sejam por tantos excelentes criadores nacionais. Desde sapatos, peças em couro, joalharia, bijutaria, há muitas e boas opções onde encontrar prendas bonitas e duráveis que farão as alegrias de quem dá, quem recebe e quem produz.
Outro presente que muito aprecio oferecer e receber é tudo o que se enquadra na alimentação caseira: fazer uma panela de doce, por exemplo, ou uma quantidade grande de bolachas, encher frasquinhos e enfeitá-los com uma etiqueta bonita ou uma fita, porque não. Quanto às bolachas, apresentá-las em sacos ou numa caixa de pasteleiro, dobrada em casa e decorada com uma fita.
A crise é horrível, ninguém diz o contrário; mas façamos desta experiência difícil um momento de regresso aos pequenos prazeres da vida. Fazer em vez de comprar, comprar menos, mas muito bom, para durar muito tempo. E fazer do Natal um momento de partilha com a família e os amigos, mais centrado no convívio que na troca de presentes.
(Texto: Ana Isabel Ramos)