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A ilha da Culatra faz parte dos encantos da Ria Formosa, de um Algarve ainda pouco “Algarvizado”. Pergunto-me, por quanto tempo?

A visita à ilha veio do conselho da Guida da Casa Modesta. Gosto dos conselhos das gentes da terra. Sou viajante que se aventura e explora e não turista que visita e se apodera dos lugares para seu belo prazer e descanso e que, muito estranhamente, só bebe vinho rosé… não sei porquê?… saberá o turista porquê?

E lá fui eu, rumo ao último mergulho, rumo ao último dia de Ria Formosa.

A ida de barco leva tempo mas, o contacto com esta noção de tempo é boa, sabe bem. Dá a sensação de que voltamos a ter efectivamente tempo, de que as coisas existem, de que tudo se prolonga… Lá vou, assim, na calma de um barco velho e cheio, que vai largando gente de ilha em ilha.

Não sai muita gente na ilha da Culatra. Ainda bem! Procuro um sítio para almoçar. Não é difícil. Pede-se um peixe grelhado (não escalado por favor! outra mania que não compreendo!), um vinho branco. Barriga cheia e passeio pela ilha até à praia.

Atravesso as casas dos pescadores e num dos restaurantes alguém diz em voz alta e em tom de aviso: “Tenho uma coisa muito importante para vos dizer… atenção… as sobremesas vão ser servidas na mesa e os cafés ao balcão…“. Continuo viagem… a ilha está calma. Pouca gente em direcção à praia. Boa!

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Percorro o longo passadiço. Chego à praia e vejo um mar intenso, ondas que se precipitam para o curto areal. Os nadadores salvadores tomam em mãos outro serviço, o de salvar a esplanada de madeira do bar da praia. A lua mudou, as marés também… chegaram as marés vivas, os dias em que o mar tem por hábito comer areal.

Regresso ao centro da ilha. Sento-me no café Janoca, peço uma água fresca. É Domingo, há missa e a esplanada enche-se das gentes da terra. Os que não estão na esplanada descansam na sombra da Igreja enquanto esperam pelas suas “Marias”. Outros falam, bebem, comem tostas mistas domingueiras, descansam. Alguns saem de barco para outras praias porque hoje os barcos não saem para a pesca, saem com a família a bordo. Houve-se Maria Betânia, oiço os locais falar das suas vidas.

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É fácil ouvir de forma involuntária a conversa alheia… como não fazê-lo? Aprendo sobre as vidas da ilha. Alguém pede para não lhe trazerem mais cervejas Cristal: “Epá paga-me antes uma sagres mini!“. Duas mulheres falam de como antigamente as moças da ilha namoravam com os moços dali: “Agora não, só querem moços de fora.” Outra diz: “O meu neto não quer estudar… já pediu ao avó para lhe arranjar um trabalho… o barco do avó vai para ele, ele já sabe disso…“. Aqui não se fala de carros, de BMW’s, de Mercedes, Porches e Ferraris mas de barcos, que são modo de vida, sustento, alento, gosto e por vezes desejo.

Oiço música ao longe… parece o “Y Viva España” com muitos lá lá lás à mistura… oiço as minhas vizinhas de esplanada: “Olha são estes outra vez. Vêm cá todos os anos festejar. É a Associação Algarve Mais!

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À medida que se aproximam vão dançando e todos batem palmas. Não percebo a escolha musical pois acho que um Marco Paulo ou um José Cid têm um repertório bastante adequado a este tipo de festarola. Opções à parte, a caravana passa e tudo fica silencioso outra vez para dar lugar às histórias dos habitantes da ilha da Culatra.

As 17h chegam e com elas o barco de regresso. Mais 45 minutos de viagem pela formosa Ria que termina juntos aos Mercados de Olhão. Todas as viagens terminam. Dar lugar a outras é necessário, vital. E haverão certamente muitas mais. Para quando? Para breve talvez… para quando houver tempo.

Até um dia destes!


 

(Texto e imagens: Raquel Félix)