“Há lugar para mais dois?”… “Há lugar para mais seis?”… “Há lugar para um?”… a pequena sala de refeições do Stop do Bairro enche-se aos poucos. Uma da tarde e já quase não restam lugares. Uma e meia da tarde e a fila começa a formar-se na rua.
Há sempre lugar! Mesmo que isso implique uma espera de trinta ou quarenta minutos. A malta espera porque não cansa. Faz-se conversa à porta de imperial na mão. Adianta-se a entrada molhando a garganta… não vá a fala secá-la!
Lado a lado, convivem estranhos que comem como velhos conhecidos. As mesas partilham-se porque o espaço é pequeno. Apertadinho é mais aconchegado, fica mais próximo. Cheiramos o nosso prato e o do vizinho do lado, ajudamos a passar a travessa das sardinhas, do arroz de cabidela ou dos choquinhos à Angolana.
À esquerda angolanos, atrás brasileiros, mais atrás alemães, ao fundo do lado direito um grupo de portugueses e mais estrangeiros e mais portugueses e mais mistura e mestiçagem… que coisa boa, variada!
À mesa fala-se sempre a mesma língua! Há um entendimento que não precisa de tradução. Levanta-se um, levantam-se todas as pessoas da fila. Não há espaço entre as cadeiras! Não faz mal, assim ficamos mais próximos e até trocamos um par de palavras, de olhares ou de sorrisos… assim é melhor, é mais aconchegado! No Stop do Bairro a coisa é simples, fluída, sem complicações onde cabe toda a gente. É casa de muitos. É a nossa “casa”.
Se Lisboa perde isto, Lisboa perde-se.
Texto e imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me