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Cabo Verde é “sabi”

18 Março, 2013

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As voltas da vida levaram-me na semana passada a visitar Cabo Verde. Foi a minha primeira vez em África.

Lembro-me de sempre ter notado nas pessoas um brilho especial nos olhos ao falar nesse continente imenso; quer seja gente que lá nasceu e relembra esse tempo com o filtro mágico da infância, quer seja gente que para lá foi mais tarde. Quem vai a África volta diferente, penso eu, com um misto de curiosidade e espanto no brilho dos olhos.

Pois agora, depois de ter visitado Cabo Verde, começo a intuir o porquê. E sim, bem sei que Cabo Verde é uma excepção na região, que o seu estatuto insular lhe confere um carácter diferente do dos países continentais; sei de isso tudo. Mas o que intuo – e notem que uso “intuo” – é a sensação de casa, sem ser, que África nos dá. Uma casa grande, espaçosa, imensa, uma casa onde parece haver uma liberdade sem fim, talvez pelo horizonte tão longínquo, pela brisa carregada de areia do deserto ou pelo mar tão azul.

Cabo Verde é casa: é-nos familiar, ao mesmo tempo que é diferente. São familiares os bilhetes de identidade, com o mesmo modelo do antecessor do nosso cartão do cidadão. Familiares os cafés, os pratos, as ementas. Familiar a língua, com o toque tropical da sonoridade crioula. Familiares as pessoas, também, que nos cumprimentam quando passamos. Familiares as aldeias, equilibradas nas falésias. E diferente porque é outro país, outra moeda, outra latitude.

Fiquei com vontade de voltar, de conhecer as ilhas que não visitei, de falar com as pessoas, que demonstram uma bondade quase ancestral e impoluta, sobretudo fora dos centros urbanos. As boleias que demos foram momentos em que vidas muito diferentes se tocaram, e em que muito aprendemos de quem teve a amabilidade de nos explicar como eram os costumes locais ou de quando tinha sido feita a estrada em que circulávamos.

Passeámos por campos verdes e montanhas desérticas, vimos pinheiros e cactos, falámos português e aprendemos palavras de crioulo. E por isso vos digo que Cabo Verde é “sabi, sabi dimáss”. Já tenho saudades.

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)