Já aqui falei das maravilhas da tecnologia e das redes sociais. Hoje, quero aqui falar das maravilhas da tecnologia, mais concretamente a magia dos podcasts.
Aprecio deveras ouvi-los; enquanto trabalho, os de entrevistas e cultura são favoritos. Já quando viajamos por esta cidade ou pelo país, gosto de ouvir os podcasts de humor que passam em Portugal. Deliro com o Portugalex e o magnífico jogo de vozes dos actores, para dar vida às “personalidagens” (as personagens são, na sua maioria, personalidades. E vice-versa.). Ouço atentamente a Mixórdia de Temáticas, com todos os seus Ribeiros; e outro favorito, recentemente extinto, é a Caderneta de Cromos.
Numa recente viagem de carro, tivemos 300km de disparates e memórias das nossas infâncias e juventudes, tão diferentes mas tão parecidas. Eu, com uma boa quantidade de anos em Macau, via desenhos animados diferentes de quem passou esses anos em Portugal. Mas nos Verões atlânticos actualizávamos a nossa cultura popular com as as repetições vespertinas durante os intervalos digestivos dos banhos de mar.*
Enquanto no espaço nos deslocávamos por terras panamenhas, viajámos por essa paisagem a perder de vista que é a quarta dimensão. Disparados por memórias sonoras como a da canção dos Jogos Sem Fronteiras, andámos por verões longínquos, desenhos animados da infância, telefonámos discando os números e usando cartões TLP, num tempo em que telefones espertos, podcasts e redes sociais não alcançavam sequer o estatuto de ficção científica.
Foram vinte anos e sete mil, novecentos e dezanove quilómetros, a distância que nos separa de Portugal. Tão longe, tão perto.
*A propósito, sabiam que a fobia do banho durante as três horas da digestão é coisa muito portuguesa?
(Texto: Ana Isabel Ramos)