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Portugalize.Me_Maria Rapariga

Sabia que, em Portugal, entre 57.000 crianças e jovens até aos 12 anos que praticam futebol/futsal, apenas 800 são raparigas?

Dei de caras, por puro acaso, com a campanha “Maria Rapariga” desenvolvida pelo Rui Quinta para a Associação Portuguesa de Mulheres no Desporto (nem a propósito, já que ontem vos revelei que eu própria joguei futsal durante a minha adolescência). Este projecto, materializado em 3 vídeos, foi lançado em 2012 e, apesar de ter tido a sua repercussão no meio, passou despercebido aos olhos de muitos portugueses. Tal como revela o Rui: “Estes 3 vídeos, mais do que a ideia, são uma pergunta uma resposta. Mais do que revolta, provocação e desafio. Apelam a gente diferente e são tão “normais” como ver uma criança, adolescente ou mulher profissional de futebol a jogar à bola.

Sempre gostei de jogos de equipa e tive, infelizmente, as minhas dificuldades em encontrar um lugar onde pudesse jogar e competir com uma “camisola”. O facto de ter vivido a minha adolescência numa terra pequenina da Beira Alta não abonou muito a meu favor mas, sempre tive o apoio dos meus pais e de dois professores que marcaram a minha vida desportiva (obrigada professor Rogério e professora Isabel Chegão). Adorava jogar à bola na rua mas, claro está, sempre com rapazes porque as raparigas não aderiam à coisa, só mesmo a minha irmã que sempre foi muito mais à frente, também.

Eu era a “Maria rapaz”, aquela que os professores da escola primária escreviam nas fichas de avaliação do aluno como a que não se integrava “no grupo”. Grupo? Na altura do Estado Novo vivia-se a plena separação, escola de meninas de um lado e escola de meninos no outro, porque tudo junto era pecado, porque a saudável convivência conspurcava a mente das pobres e castas meninas. Por vezes sentia que ainda estava algures no tempo do Salazar, apesar da minha muito tenra idade, lá está, valiam-me os meus pais, a minha irmã e os meus amigos da bola. O estigma de não corresponder a um suposto padrão esteve sempre presente mas, não me abalou.

Depois da primária veio a escola preparatória onde joguei basquetebol numa equipa de rapazes no âmbito do desporto escolar. Era eu e a Anabela. Nós queríamos jogar, desse por onde desse. Não havia equipa feminina… azar, faça-se uma mista. E assim foi. O professor Rogério lá falou com as entidades do desporto escolar e lá nos pôs a jogar no meio dos rapazes. E assim foi, durante 2 anos. Não ganhámos nenhum título. Ficou a amizade, o respeito e o enorme prazer de jogar.

Depois veio o Liceu e a professora Isabel Chegão que punha toda a malta a mexer. De tal maneira que pôs uma equipa feminina de futsal a vencer pela Escola Secundária de Pinhel!

As supostas “coisas” de meninos fizeram de mim uma criança e uma adolescente muito feliz e muito integrada (contrariando o que os meus professores da primária escreviam, pensavam e projectavam para mim).

Apesar de já ser Fevereiro, recupero os votos da Catarina Furtado, voz activa neste projecto: “São muitos os jovens e crianças que praticam futebol ou futsal em Portugal. Contudo, apenas uma pequena parte são meninas. Vestir a camisola do Jogo das Raparigas, um projecto nacional desenvolvido pela Associação Portuguesa Mulheres e Desporto, é sinónimo de combater a invisibilidade e as desigualdades da participação de raparigas e mulheres no meio desportivo, nomeadamente, naquelas duas modalidades. Como sabem, a luta pela igualdade de direitos é uma das minhas maiores motivações e, foi por isso que, juntamente com o Pauleta me associei a esta campanha. Deixo-vos um dos vídeos e uma mensagem: não existem “desportos de menino”, apoiem as vossas filhas/amigas/namoradas… Vamos começar 2014 sem preconceitos!” – Mensagem deixada no facebook no dia 2/1/2014

(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me)