Durante quase 10 anos, viajámos por diversas portugalidades expressas em objectos, tradições, negócios, canções, comidas, poemas, em sítios, lugares e lugarejos, nos discursos das gentes, nas gentes, pelas gentes.
O que se contou foi mudando, o que se encontrou, também. Portugal transformou-se. Está na hora de trazer o barco para terra, de o guardar por tempo indeterminado até que volte a fazer sentido mais uma viagem, ou várias até.
O Portugalize.Me recolhe-se. Haverá tempo para mais contemplações, para se continuar no caminho de uma possível “alfabetização da paisagem”.
… tantos anos depois, somos obrigados a perguntar se a luz é o reflexo de passageiras nuvens ou se a aldeia submersa recusa apagar o farol do mito onde foi assentando seus novos alicerces: o resultado é uma alfabetização da paisagem permitida pela distância e pelo tempo; os mitos que se criaram melhor dormem no leito de água, aquecidos ao afago dos cobertores do tempo, e qualquer ilusão de regresso ao tempo primordial apenas deixaria a nu destroços, ilusões, e um grande vazio, pois os paraísos perdidos outra coisa não foram: nunca nada se perdeu, mas tudo fomos construindo dentro de nós.
Amadeu Ferreira, “alfabetização da paisagem” in Norteando
Fotografia e Texto: Raquel Félix