Há mais de 50 anos que a cervejaria Gazela serve os deliciosos e famosos cachorrinhos da Batalha. Num Porto, onde as francesinhas são o prato da casa, vingar com uma receita que em nada aparenta ser portuguesa é de valor.
E é ainda de mais valor quando alguém reconhece potencial a uma receita com meio século de história e transforma a peregrinação obrigatória a uma casa modesta com ar de tasca bairrista, num desejo de saber fazer e de querer levar os cachorrinhos mais longe.
As coisas boas da vida não devem perder-se, devem resgatar-se e devem ser partilhadas, mostradas, dadas ao conhecimento. E desta feita lá foram eles, os cachorrinhos da Gazela Portugal fora. Do Porto para Lisboa, numa viagem improvável mas cheia de sentido, que o Porto e Lisboa casam bem melhor do que se pensa por aí, lá vieram os cachorros da Batalha dar o ar de sua graça.
Aos 50 anos de existência, o Diogo, o Luís Miguel e o Francisco querem acrescentar mais 50, ou até mais 100. Três amigos apaixonados pelos cachorrinhos da Batalha, resolveram fazer amizade com quem é da casa e aprender a receita dos compadres Gazelas.
Da vontade, do engenho e de algum saber agarrado às veias da família, nasceu a Cachorraria Nacional, bem no início de 2015, para fazer dos cachorrinhos da Batalha um hino ao Porto à moda de Lisboa. Ao típico Gazela da salsicha fresca, da linguiça do queijo e do molho a dar para o picante juntaram-se outros cachorros, outros ingredientes.
A Gazela gerou amizades, criou novas raízes que agora se fazem crescer país fora.
O espaço mostra o afecto pelo Porto e a vontade de o mostrar a uma Lisboa em transformação. Decorado pelos Urburner Collective (Pedro Peixe e Frederico Aranha), a Cachorraria Nacional não é uma casa de cachorros qualquer, não se limita a fazer cachorros ditos gourmet ou artesanais. Ela representa um legado e a responsabilidade de contar uma história nacional, de como um cachorro no Porto, lá para os lados da Batalha, tem vindo a alimentar barrigas e gula há mais de 50 anos.
De cada vez que um freguês entrar na Cachorraria, irá certamente ficar a saber o que levou três amigos a abrir um espaço que, aparentemente, nada tem de português.
Felizmente que nem só de bifes, hambúrgueres e francesinhas vive o português!
(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me; Imagens (1 e 2): Jornal o Público; (3 e 4): Cachorraria Nacional.