Imagino que entrar numa cozinha de um restaurante em plena “hora de ponta” deva assemelhar-se a uma visita à Bolsa de Valores em plena Wall Street, Manhattan. Quem vê este reboliço de fora percebe-lhe a adrenalina, a tensão, a urgência. Há um fascínio subjacente, um despertar da curiosidade por tais mundos e, por vezes, até nos imaginamos a fazer parte deles, desejamos-nos lá, no meio de tachos e panelas, facas e nabiças, cotações e acções, divisas e afins.
Sentados na sala de um restaurante não damos por nada disso. Queremos o sossego da degustação, tempo para a mesma, nada a atrapalhar o momento que se adivinha pleno. Nós, a comida e todas as sensações que irão surgir de um simples e tranquilo trincar (forma, textura, sabor, cheiro…). Nós e a comida. A dada altura queremos saber mais e melhor: “Quem é o/a Chef? Quais os ingredientes principais? Como é que foi confeccionado?”… a curiosidade regressa à mesa e voltamos a pensar no backstage do restaurante, a cozinha!
Vamos tendo uma noção do que se passa numa cozinha através de reportagens em revistas, programas de TV (fábrica de heróis do século XXI), blogs, conversas de amigos… é possível aproximarmo-nos um pouco mais desta realidade, as portas estão cada vez mais abertas e mais realistas (esta realidade não se limita apenas a explorar a imagem de um/a qualquer Chef de cozinha a relatar e a executar uma qualquer receita para o almoço ou jantar).
Fotografar um ambiente de cozinha requer contexto e ele existe para além do/a Chef. Há mais, muito mais. Captar a essência desta arte (que não apenas o mostrar de pratos bem confeccionados) requer conhecimento, relação, percepção de um todo. Mostrar as emoções inerentes a um ambiente de trabalho tão intenso requer proximidade, paixão, envolvimento. Eis o mote de apresentação da Guerrilla Food Photography do Paulo Barata e do Pedro Nóbrega.
O Paulo e o Pedro conseguem passar através das fotografias que tiram, o “subtexto” de uma cozinha, aquilo que não vemos e não sabemos, o que nos fascina mas também tudo aquilo que faz deste trabalho, um trabalho de rigor, exigência, disciplina. As fotografias são intensas, com vida, verdadeiras imagens dialogantes. Estes storytellers de imagens lançam um olhar não só sobre os/as Chefs mas sobre todo o Staff.
O mote é simples mas amplo: “CONTEXT AND MEMORY PLAY POWERFUL ROLES IN ALL THE TRULY GREAT MEALS IN ONE’S LIFE”, SAID ANTHONY BOURDAIN. WELL, SOMETIMES WE’RE THERE SHOOTING TO HELP ON THAT.” GFP
(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Fotos: Guerrilla Food Photography)