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Cante Alentejano Os Bubadanas

A memória é por natureza curta, dizem as gentes, não dá para tudo, não cabe lá tudo e num mundo tão cheio de informação e estímulos, o que nos vai ficando na memória é, ao que parece, cada vez mais temporário. A este ritmo, torna-se difícil a verdadeira e boa permanência das coisas. Mais do que coisas, dos sentimentos que possam advir dessas coisas… e ficamos à superfície, pouco se instala… e pobres de nós, pobres de nós.

Mas, riquezas há que perduram, por se terem instalado num lugar muito particular da memória, pessoal e colectiva, no lugar dos afectos. São estes lugares que enchem a alma de um povo de significados e lhe conferem a digna humanidade, a digna profundidade.

Falo-vos do Cante, do Cante Alentejano, e por tudo isto, emociono-me e choro quando oiço o Cante. Grupos de homens ou mulheres unidos pela voz, pelas histórias das modas, as duras e tristes histórias que foram passando de boca em boca, sem paradeiro. A dor e a tristeza une as pessoas. “Vê lá companheiro, vê lá… vê lá como eu venho, vê lá.””Ó triste, três vezes triste.”

A imaterialidade da palavra dá ao Cante uma volatilidade e uma liberdade unificadora. E ei-los que se juntam nos cafés, nas tabernas, nas ruas e ei-los que cantam… um começa, o ponto, voz mais precisa, segue-se o alto, voz mais aguda e por fim o coro.

E diz-se que Portugal não é unido, que não somos uma comunidade unida… é cada um para seu lado, são os lados a puxar e a afastar cada um de nós… temos de regressar mais vezes a estes lugares, saber mais Cante, sabermo-nos.

Procuremos mais a imaterialidade das coisas, sejamos Cante.

(Texto: Raquel Félix – Portugalize.me/ Imagem: Grupo de Cante Alentejano “Os Bubedanas“)