A máquina de costura da Odete, que agora é do Daniel, já não cose só tecidos. A velhinha Oliva (ícone incontornável na história da indústria portuguesa) agora cose cadernos, dizem que 600 por semana. Um trabalho mano a mano, entre designer de comunicação e máquina de costura, que dá vida ao novo negócio de cadernos personalizados do Daniel, a 1/1 (Um Barra Um).
A história do Daniel Mendes é prova de que nem sempre se perde, por vezes consegue-se transformar. Pegar numa velha máquina, que já nem se quer se fabrica e, dar-lhe novo sentido, adaptá-la, foi este o encontro necessário para que a 1/1 nascesse. A máquina era da sogra, o talento é do Daniel e da parceria estratégica com alguns ilustradores. Todos os cadernos são feitos à mão e de edição limitada (processo que o Daniel deseja manter, a massificação não o fascina).
Admiro o Daniel, confesso que o admiro. A nossa formação não dita em nada as “regras da casa”, do que vamos ser ou fazer. Um designer de comunicação a coser cadernos! É maravilhoso. Admiro o Daniel. O que os mais velhos vão deixando de usar, os mais novos aproveitam. O Daniel soube dar uso a isso.
A minha mãe tem lá por casa uma velha Oliva que já pouco trabalha. Antes, dedicava-lhe todo o seu tempo. Sempre foi costureira. Costureira formada em corte e costura, ali para as bandas da Rua da Misericórdia em Lisboa, andava ela grávida da minha irmã mais velha, isto em 1976. Regressou à terra, formada e deu aulas a outras mulheres. Costurava dia e noite. Recordo o som da máquina. O som do pedal da máquina. Foi assim durante anos, mas o negócio da costura ficou para trás (agora há um outro que a preenche mais).
De cada vez que visito os meus pais, lá está a máquina Oliva, parada, pouco usada. Talvez fosse assim com a máquina da Odete, antes de ser do Daniel, tal como a fábrica da Oliva, antes encerrada, mas que agora dá vida a um novo projecto, a Oliva Creative Factory.
Reforço, admiro o Daniel, admiro a minha mãe, admiro os que fizeram nascer o Oliva Creative Factory porque, apesar dos tempos mudarem, muitos não se quedam. Tudo é passível de ser transformado.
Mudam-se os tempos, transformam-se as vontades.
(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me)