Alice é nome de história. Ao cair na toca de um coelho, ela descobre um mundo fantástico, profundamente desconhecido e estranho mas, fascinante. A vida de Alice Bernardo dá ares de “Alice no País das Maravilhas”. Não que tenha caído numa toca de coelho ou que tenha encontrado uma rainha de copas má com desejos constantes de cortar a cabeça a quem a desafie ou desobedeça. Alice é também Alice por ser nome de viagem.
Alice Bernardo tem viajado muito, falado muito e encontrado muito. Ela, descobriu país fora milhares de mãos paradas que sabem fazer coisas inimagináveis. Descobriu que a melhor forma de coser um sapato é usando uma agulha feita de pêlos de javali (a agulha de cerda de javali, assim chamada, é parte de uma técnica tradicionalmente usada por sapateiros que, sendo forte e flexível, facilita a passagem no ângulo de 90º do furo não criando resistência à passagem pela pele, ao contrário de uma agulha metálica). Soa a fantástico, uma agulha de pêlos de javali para coser sapatos!
Este é o país que a Alice habita e dá a conhecer. Um país com uma incrível força de trabalho e um conhecimento de alta tecnologia artesanal do qual não estamos a conseguir tirar o devido proveito, não estamos a saber aproveitar todo seu potencial. Alice que é Alice é frontal e põe todas as cartas na mesa. Segundo ela, devemos abandonar a ideia fechada e enclausurada de conservação do tradicional e artesanal, sem condescendência e, apostar mais na estimulação desta forma de tecnologia. Provocar é palavra chave, mote até, para que haja mais solicitações externas que potenciem a produção artesanal.
Com a Saber Fazer, a Alice procura estimular redes de produção que estão adormecidas e que podem ser acordadas com pequenos actos de exigência, refere ela.
“O Saber Fazer não é um projecto documental, é uma ferramenta de pesquisa e de trabalho e o que eu faço é encontrar as pessoas, perceber as técnicas a fundo, o que elas produzem e, com essas técnicas, o que é que podemos produzir, perceber as potencialidades que cada artesão tem porque há muito de humano nesta escala e, perceber também as dificuldades que eles atravessam, que não é possível para eles fazerem tudo mas, que é possível fazer muito.”
(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Imagens e vídeo: Saber Fazer)