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Abril, águas mil

6 Abril, 2014

Portugalize.Me_Abril Aguas Mil

E assim sem saber muito bem como, chegou o mês de Abril. Fechou-se o primeiro trimestre de 2014, terminou o Inverno, veio a Primavera. Dizem que a recessão já está para trás, mas que a austeridade vai continuar; ainda não se aprovou a coadopção por casais homossexuais, muito menos a adopção plena, a troika vai sair, a troika não vai sair, vamos ter um pós-troika à portuguesa, não à irlandesa, mas a mais impactante notícia parece ser que cheira mal no Parlamento. Não é novidade.

Lá fora, a saga do avião desaparecido continua, e as teorias da conspiração avolumam-se. Dir-se-ia que o triângulo das Bermudas se moveu do Atlântico para o Índico, ou talvez o mar do sul da China. O que é certo é que o avião caiu há quase um mês, e apesar de toda a tecnologia com que hoje convivemos, apesar de toda a vigilância por parte das grandes potências, ainda não se sabe o que lhe aconteceu, nem onde foi parar.

E apesar de todas as voltas que o mundo dá, fora das nossas paredes, bombardeando-nos com notícias, não notícias, notícias que avançam e logo recuam, notícias de possibilidades e muitas incertezas, cá dentro a vida prossegue, o trabalho avança, mantas são bordadas, as meias, tricotadas; os amigos estão presentes, as crianças crescem e aprendem, namoramos, conversamos, trocamos experiências.

Mais austeridade, menos austeridade, mais devolução de fundos a Bruxelas, menos dinheiro por cá, a vida continua: continuamos a acordar todos os dias, a encontrar motivação nas plantas, nas flores, nas vistas e sabores que nos rodeiam, nos amigos que nos mimam e na família que, perto ou longe, está presente. Lá fora o mundo corre rápido; cá dentro, o passo é outro.

No meio de tanta chuva, tanto cinzento – real e metafórico – há muita beleza para descobrir à nossa volta: um detalhe bonito num prédio decrépito, uma flor numa árvore, um sorriso num transeunte que teima em dizer “bom dia”, quando todos sabemos que não se usa na cidade cumprimentar o próximo. 

Lá fora, nas notícias, continua tudo igual: chove desinformação contraditória, diz que disse, cheia de “talvezes”; cá dentro, cultivam-se os pequenos gestos, trocam-se umas palavras com a senhora da lavandaria, fazemos bolos, abraçamos os amigos e vemos as crianças crescer.

Enfim, a Terra continua a girar no seu eixo e tudo está bem.

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)