Já que o Brasil anda na boca de toda a gente lembrei-me de ir ver como tem andado a nossa música no país que muitos chamam de irmão.
Apesar da língua, o panorama não é assim tão positivo. Aliás, no outro dia falei com um membro dos Capital Inicial, banda rockeira da geração dos Paralamas do Sucesso e outros, que comentou algo que também se adequa a esta dificuldade dos portugueses de entrarem no mercado brasileiro. O rockeiro falava do Brasil como o continente que é, cheio de diferenças culturais de região para região. Ou seja, se, para um músico brasileiro que fale códigos mais fechados, como o indie rock por exemplo, é complicado ser ouvido, imagine-se para um artista vindo do outro lado do Atlântico que canta numa língua que não é tão familiar assim. Apenas um cantar português teve e tem uma aceitação óbvia no Brasil, como de resto, em todo o lado. Falamos obviamente do Fado, levado com excelência e carisma por Amália, numa tradição que foi temperada por intérpretes canarinhos de espectros diversos como Chico Buarque, Maria Bethânia, Marisa Monte e Fafá de Belém, por exemplo, e que encontrou em Eugénia Melo e Castro, uma representante quase didática, que proporcionou várias reuniões entre portugueses e brasileiros, tendo ela própria uma carreira entre o fado e o jazz que arriscamos dizer que tem mais expressão no Brasil do que cá.
Hoje, temos claro o fado bossa nova de António Zambujo, explorado com inteligência no mais recente disco “Quinto”. O fadista/cantor português é neste momento o músico português com mais presença no Brasil. De resto, desde o ano passado que há um Festival de Fado do Brasil, organizado por portugueses, mas que chega com largos anos de ‘atraso’ em relação, por exemplo, ao seu congénere em Espanha.
Dito, isto, o Fado, também se recomenda no Brasil por estes dias.
Historicamente, há uma estreita relação entre os músicos brasileiros e os portugueses. Há a amizade que juntou os compositores dos dois lados do oceano em tempos de ditadura, que Buarque pôs em música em temas como Fado Tropical, Tanto Mar e Um Tempo que Passou, que o juntou com Sérgio Godinho. Hoje em dia, até assistimos a um fenómeno engraçado com os ex-membros dos Los Hermanos, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, a passarem largas temporadas no nosso país (Camelo vive mesmo em Lisboa, com a namorada Mallu Magalhães) e a trazerem consigo largas ideias para colaborações com portugueses – a nova Banda do Mar e os Brasil d’Agora, que juntou Momo, Wado e Cícero (todos eles herdeiros de Camelo) a Fred Ferreira e outros músicos portugueses.
E porque falamos do Fred, que é filho de Kalu dos Xutos & Pontapés, não deixa de ser curioso que a veterana banda portuguesa, nos seus mais de 35 anos de carreira nunca conseguiu furar no Brasil. Como eles, há outros como os GNR, que até tiveram mais aceitação na altura.
Mas com este movimento de fora para dentro podem estar lançadas as bases para um outro tipo de internacionalização da música portuguesa. Globalizada e partilhada através da internet e, se calhar, com sotaque.
(Texto: Rita Tristany Barregão para Portugalize.Me)