Há cerca de um mês e meio comecei a fazer um curso de negócios online. Dado por uma mulher, aliás, duas, este curso tem-me feito perder o sono pela incrível mudança de paradigma que tem provocado em mim, na minha maneira de encarar o meu trabalho, o meu negócio e a minha relação com o dinheiro.
O curso destina-se a pessoas como eu, micro-empreendedores, sobretudo mulheres, que têm boas ideias, fartam-se de trabalhar mas não vêem os seus esforços recompensados financeiramente. Para vos dar um exemplo, para trás tenho três anos de publicação mensal da minha zine ilustrada “airing from Lisbon“, antes “We’re in Panama!” (que adoro fazer e partilhar, por sinal), mas que não me traz nem um cêntimo de retorno financeiro. Imaginem que trabalhavam uma semana inteira por mês sem receber nada em troca? A menos que seja trabalho voluntário (opção perfeitamente digna), não tem graça nenhuma.
Talvez seja influência cultural, não sei, mas a minha educação sempre foi para não sobressair do conjunto. Na escola tinha excelentes notas, o que nem sempre jogava a meu favor. Sobressair significava muita coisa “má”: ser competitiva, ter atitudes de líder (como se isso fosse mau), despertar invejas.
Inscrevi-me neste curso pelo currículo e pela sua premissa: trabalhar menos, de forma mais eficiente, de forma a ganhar mais dinheiro. Em palavras “executivamente” bonitas, a ter um melhor retorno pelo meu investimento.
E de repente vi-me rodeada (virtualmente) de pessoas que pensam que criar valor, trabalhar para o bem comum e ganhar dinheiro não são conceitos antagónicos. “Profit is not a dirty word” foi a frase que li hoje, contada a propósito de um empreendedor que trabalhava bem, ganhava muito e que repartia os seus lucros com a comunidade de forma anónima.
Às vezes, é desta inspiração que necessito para almejar mais alto, para não ter medo de sentir que o meu trabalho deve ser valorizado e bem pago e que não devo temer as invejas que isso possa despertar.
“Sobre política, religião e dinheiro não se fala”, foi o que aprendi ainda adolescente, e sei que por isso o tema não é fácil. Mas quero saber: que opinam?
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)