(Arte com inspiração mexicana, em Orlando, Flórida, EUA. “Festive Triceratops”, acrílico, Banjo Bob e Maria Bolton-Joubert)
Em viagem pelos Estados Unidos, verifico que o olhar dos cidadãos americanos em relação aos seus vizinhos mais a Sul é bipolar. Por um lado, consideram o México um país de terceiro mundo, território exclusivo de narcotraficantes, onde o risco de sequestro é enorme. Por outro, alimentam um fascínio pelas cores, tradições – ainda que mastigadas e sintetizadas para o seu consumo – e gastronomia.
O problema da má reputação internacional não é exclusivo do México. Veja-se a Colômbia, por exemplo. A imediata ligação que se estabelece é de perigo, narcotráfico e assassinos a soldo.
No entanto, nem num caso nem no outro se é rigoroso neste retrato demasiado apressado. Tanto a Colômbia como o México têm várias lições a dar não só aos Estados Unidos como a todos os que fazemos reduções simplistas sobre as suas realidades.
A Colômbia, por exemplo, é dos casos mais bem sucedidos na região de um compromisso de todos os parceiros sociais a fim de conseguir a paz e de trazer desenvolvimento ao país. O México, por seu turno, não só se esforça por tornar as suas cidades mais habitáveis como também protege e divulga o seu património cultural.
Um país não se resume à imagem que se tem dele. A reputação de um país é só a cobertura do bolo; escavando, ainda que pouco, podemos descobrir que o seu verdadeiro sabor não é exactamente o que pensávamos.
Sugiro que façamos o mesmo em Portugal. Sabemos que é um país em crise, que de momento tem uma imagem de país à beira do abismo. Peço-vos que insiram aqui todas a imagens cataclísmicas que quiserem.
Mas essa é só a cobertura do bolo. Portugal – e nós, portugueses – somos mais que isso. Somos pessoas com uma riqueza cultural de vários centos de anos, com uma língua falada por muitos, no planeta. Somos as cidades que construímos e que habitamos, somos o nosso próprio compromisso com o bem público, ao apanhar um pedaço de lixo do chão e ao devolvê-lo ao caixote. Somos as ideias que temos e as que pomos em prática, para resolver problemas e fazer a vida de todos um pouco mais fácil ou aprazível. Somos a qualidade da nossa indústria, com calçado e têxteis de qualidade superior. Somos líderes em energias renováveis. Somos paisagens, castelos, montanhas e planícies, num território tão pequeno. Somos tradição, o café que bebemos em chávenas de porcelana, não em copos de papel. E somos as refeições, comidas à mesa e com talheres de metal, em vez de de plástico. As nossas frutas e legumes têm sabor e vêm com terra e pó, não em embalagens, já descascadas e processadas. Aproveitamos tudo, como povo que sabe que a bonança pode não perdurar, e daí criámos açordas, alheiras e transformámos o comum em sublime.
Por isso, afastemos por alguns momentos a imagem negra que temos actualmente e concentremo-nos no que realmente somos, no que podemos desenvolver e melhorar e no país que queremos ser.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)