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O que nasce na Serra da Lousã

7 Fevereiro, 2014

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A Serra da Lousã sempre esteve muito presente no meu vocabulário, apesar de Pinhel ficar a uns 200 quilómetros de distância (vivi por lá até aos meus 18 anos). A proximidade foi criada pela antena de televisão lá de casa (estranha forma de criar proximidade com o que quer que seja mas, possível, real).

Muito antes da televisão digital sequer ser mencionada, nos telhados das casas de qualquer lugar, as antenas eram donas e senhoras dos mesmos. Quais árvores de metal depenadas ao vento, à mercê dos elementos da natureza, tão à mercê que de cada vez que havia uma tempestade as televisões inundavam-se de grão, ruído, interferências. Havia um remédio para isso, subir até ao terraço e direccionar a antena para onde quer que fosse, até reencontrar o sinal de emissão.

Por vezes o remédio não curava e lá se ia a novela, o filme ou a série que se estava a seguir mas, logo surgia outro remédio (há remédios para tudo), culpar a Serra da Lousã. O sinal de emissão vinha da Serra da Lousã (era essa a nossa crença). A emissão falhava e a antena não resolvia, a culpa é da Lousã, perdia-se o som e a antena não resolvia, a culpa é da Lousã. Para mim a Lousã foi isso mesmo durante muitos anos, um depósito de culpa, um despejar constante de responsabilidade.

Redescubro agora uma outra Lousã, uma Serra fértil que luta diariamente pela sua manutenção e preservação. Um lugar de criação que emite vida. Se na minha tenra idade a minha preocupação era a de preservar o sinal de emissão da TV e de tudo que nascia daquela pequena caixa negra (qual fascínio dos anos 80 e 90), nos dias que correm a TV é-me banal e percebo que outras coisas nascem por lá.

O Núcleo da Maternidade de Árvores é um dos muitos projectos que as populações daquela região abraçam e fazem perdurar. As árvores também precisam de cuidados, mais do que as antenas depenadas dos nossos telhados.

A Maternidade pretende ser um espaço de educação ambiental possibilitando o conhecimento e a participação no processo de reprodução de espécies autóctones (plantas, arbustos e árvores). Cada visitante pode apadrinhar e contribuir para campanhas de plantação de árvores, um contributo que pretende preservar espécies raras ou em extinção (azereiro, azevinho, azinheira, carvalho alvarinho e negral, carvalhiça, castanheiro, folhado, gilbardeira, medronheiro, loureiro, sobreiro, pseudo-plátano, teixo, ulmeiro, pinheiro manso, tramazeira, entre muitas outras).

A Serra da Lousã passa assim de espaço de culpabilização para espaço de vida. Muita coisa nasce e cresce por ali. A Lousã é uma boa mãe.

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(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Imagens: Eco-Museu Tradições do Xisto)