“Quero ver a minha terra, Senhora
Para ver a minha gente, sorrir
É bonita a minha terra e agora, ai agora
Esconder esta saudade, é mentir
E lá longe, lá longe, Senhora
Há pessoas, que eu quero, abraçar
De tão longe viemos, embora
E dói muito partir, sem voltar”
Carlos Paião cantava assim, numa espécie de oração saudosa de regressar a um lugar de origem, em “Lá Longe Senhora“.
Nos dias que correm desejamos, de alguma forma, regressar a variados e diferentes lugares… a um simples virar de esquina, à porta ao lado, ao bitoque da Ti Celeste, a um vão de escada amigo, a um passeio cheio de caras conhecidas, a uma esplanada com vozes que nos chamam, a um correr de rua acima ou de rua abaixo, a uma rixa de cães engalfinhados, ao gato de rua que nos pede comida, aos olhares cruzados numa viagem de autocarro, aos comboios atrasados, às filas e esperas de um WC de bar mal cheiroso, ao café de chávena escaldada, à gordura das bifanas, ao provar de copos alheios, aos abraços que nos colocam os ossos no seu devido sítio, aos bolinhos cheirosos dali e de acolá, à brisa do mar, às fontes de água limpa, ao vento que nos desarruma os cabelos, ao corte do mesmo, à mão dada, ao beijinho repenicado, ao tropeção na calçada, ao cocó de pombo no ombro, ao sol, à chuva, à lua…
Que o longe se torne perto, outra vez.
Texto e imagem: Raquel Félix – Portugalize.Me