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Falava ontem com o meu amigo Alexander (nascido na Rússia, português por opção mas, mesmo assim, um nómada do mundo porque no fim do ano muda-se para Londres) sobre os pormenores de Lisboa. E sobre isso disse-lhe que Lisboa não me cansa (aliás, a meu ver, Portugal em si não cansa pela natureza dos detalhes e pormenores que o constituem e que nem sempre se vêem a olho nu). E ele, já muito entusiasmado com a sua ida para Inglaterra, falou-me de alguns pormenores da terra que o vai acolher, de como em Londres, os donos dos grandes edifícios são “incentivados” a colocar obras de arte ou de outra natureza em frente aos mesmos.

A conversa alinhou-se por ai, mas o mais interessante, foi o ter estado a tirar uma sequência de fotografias no Largo de São Domingos, prolongadas até à Rua Barros Queirós, ali junto ao Rossio. A minha pequena viagem durou cerca de 10 minutos. Ora vejam o que eu encontrei…

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É raro o dia em que os compadres da esquina da Pastelaria Suíça não se encontrem por ali, com a sua famosa mesa do “Plastifica-se documentos”. Nunca vi ninguém a dirigir-se a eles, nunca vi ninguém a plastificar documentos, no entanto, a dita instalação é parte integrante do imenso ecossistema cultural que constitui esta zona de Lisboa.

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Continuo a minha viagem, sigo pela esquerda e o cheiro do lume dos assadores de castanhas entranha-se na roupa à medida que o Largo de São Domingos me abre as portas. Ali nunca está apenas uma pessoa, vender na rua não é coisa de vendedor apenas, é lugar de convívio onde cabem mais duas ou três cadeira não vá um amigo passar por ali ou o freguês precisar de descansar a pernas.

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O Largo mostra-se e presenteia os transeuntes com um soberbo espectáculo de rua. Os engraxadores que, mais do que darem corda aos sapatos, dão graxa, muita graxa, muito brilho. E desta vez eram as mulheres que queriam os seus sapatos a brilhar, ali, em frente à Ginjinha, aos olhos de todos, descontraídas, relaxadas, pareciam estar a receber uma massagem aos pés.

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Sigo em frente e dou de caras com o muro da tolerância: “Lisboa, Cidade da Tolerância” escrita em 34 línguas. Lugar onde se misturam várias culturas, vários credos… e há lugar para todos, cada vez mais.

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Sigo pela direita, pela Rua Barros Queirós, a primeira rua da cidade de Lisboa a ser exclusivamente destinada a peões (diz-se por ali). O movimento era tanto que houve necessidade de colocar duas placas com regras de circulação: “Siga pela Direita”, agora vandalizadas por um acto de revolta face a uma direita mais torta.

O que se consegue descobrir num espaço temporal tão curto em Lisboa! Basta um pouco de atenção, de predisposição para se ver o que se olha, por onde se anda. Lisboa não precisa de colocar à porta dos seus prédios obras de arte ou de outra natureza porque a história, as pessoas, os movimentos culturais que enchem esta cidade, são as suas verdadeiras obras de arte.

(Texto e Imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me)