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Fátima está possivelmente mais próxima de nós do que desejaríamos.

Não nos podemos esquecer de que somos o país do Fado, do Futebol e de Fátima e há um filme que põe isso a descoberto. Aliás, João Canijo e as onze mulheres de “Fátima” com um realismo admirável, põem-nos isso à frente dos olhos. De como a fé põe um país a caminhar para um mesmo fim. De como, por mais que tentemos ser laicos (Estado), dificilmente conseguimos colocar totalmente de lado uma crença.

É certo que o racional de um país isento e aberto deva ser isso mesmo em si e, deva também exigir isso para que possamos ser capazes de absorver a diversidade das religiões, sem tomar partido de qualquer uma delas. Mas, mais do que a crença numa religião, Canijo explora o poder da gratidão e da inter ajuda.

Cada passo dado encurta a distância. A proximidade aumenta.

Aproximamo-nos em silêncio de cada personagem tentando imaginar o porquê daquele sacrifício, de dias a fio a caminhar por um país fora, deixando a vida de lado suspensa por instantes. O que pediu cada uma delas? O que faz com que estas mulheres sejam peregrinas de “Fátima”? Ir a Fátima é parte da identidade do nosso país. 

Milhares caminham para lá todos os anos, seja em peregrinação a pé, de visita, por curiosidade, para andar de joelhos, para comprar a vela em forma de perna ou braço e cumprir uma promessa de há anos, meses, dias.

Cada vez mais perto, cada vez mais próximos, cada vez mais reais.

Foi há uns 30 anos que a minha mãe foi a pé a Fátima. Não sou crente. A minha fé passa por coisas mais terrenas, da ordem do humano (tenho fé na gratidão e na inter ajuda, lugar comum entre mim, as 11 de “Fátima” e a minha mãe). Lembro-me da manhã em que ela saiu em peregrinação com mais 3 companheiros (ao todo 3 mulheres e 1 homem). De Pinhel a Fátima são mais de 250 km. O grupo levou 7 dias a chegar.

A procissão das velas do 12 de Maio era o dia que levavam na cabeça. Lembro-me dela ligar de casa de pessoas que os acolhiam, porque há 30 anos era assim. Não levavam carros de apoio, nem havia muita coisa para ajudar os peregrinos. Iam caminho fora à espera da boa vontade das pessoas. Batiam à porta e alguém os acolhia com direito a sopa, pão, banho e cama lavada. E no dia seguinte a coisa repetia-se. As portas abriam-se aos peregrinos desconhecidos. E esta é a verdadeira viagem a “Fátima”, a que representa um lado português que nos marca profundamente em termos de solidariedade, humildade.

Ir a “Fátima” não é um acto de fé, é um acto humano.

No ano de 2015, registaram-se 587 128 peregrinos (461 300 portugueses e 125 829 estrangeiros) – Dados Santuário de Fátima

Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me

Imagens e Teaser: Fátima (João Canijo)