Estávamos todos um pouco nervosos. Uns mais do que outros. E isso era notório. Uns porque a voz tremia, outros porque se movimentavam freneticamente em frente ao microfone e outros, como que numa ausente inocência e perante uma audiência bem compostinha de boas pessoas, mostravam-se despidos de artefactos, de manhas e palavreados incompreensíveis.
Todo ele foi assim, directo, real, sincero, Lord Mantraste revelou-se ao mundo numa Pecha Kucha bem à portuguesa. Os slides seguiam-se e Bruno Santos (aka Lord Mantraste) ia falando do seu percurso, das suas histórias, das suas pessoas, de si… “esta é a minha avó… este é o meu pai… a minha mãe… e este sou eu…”!
Nascido em Nadadouro, perto das Caldas da Rainha, aceita como inspiração a sua infância, a sua vivência de menino perdido no mato, meio bicho, meio humano. Filho de uma cabeleireira e de um pastor de ovelhas, estudou Design gráfico na ESAD, lugar que o empurrou para o mundo da ilustração.
Ampliou-se aos olhos de todos quando ganhou o prémio para a Sardinha Vencedora das festas de Lisboa em 2011. Intitulada de “A Imaculada Sardinha Portuguesa” com o intuito de: “transmitir os valores do Portugal utópico do “fado, futebol e Fátima”, fazendo com que as misérias do passado caiam no esquecimento, e que a falta de confiança na possibilidade de melhorar os dias de hoje, nos faça gritar “Antigamente é que era!” (mesmo a quem não conheceu o “antigamente”)”.
E assim se fez ilustrador, e assim começou a tomar pulso ao seu engenho. De traço colorido, meio naive, o imaginário de Lord gravita em torno da religiosidade portuguesa, das icónicas propagandas dos anos 30, 40 e 50, do Portugal rural das crenças da gente que não lê mas que sabe o que as nuvens dizem nas entrelinhas (se chove, se faz frio, se faz calor).
No fim de todas as apresentação, Lord Mantraste despiu as suas vestes de super ilustrador transformando-se em Bruno Santos, veio ter comigo oferecendo-me uma das suas ilustrações, felicitando-me por também falar de um Portugal por vezes esquecido e desvalorizado.
Lord Mantraste ou Bruno Santos, um Senhor puto, de se lhe tirar o chapéu, com um talento e uma mensagem que vale a pena seguir.
(Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me/ Ilustração: Lord Mantraste)