Lisboa anda na boca de muitos e no coração de outros tantos. Não falo apenas de nós, os portugueses, que durante anos adormecemos o amor e a ligação às coisas nossas (produtos, tradições, espaços, pessoas). Falo mais de quem de fora nos olha e deseja tão vibrante cidade. A cidade, como porta de entrada, começo de uma descoberta que surpreende aqueles que nos desconheciam, ou os que nos (co)fundiam com nuestros hermanos espanhóis.
A cidade fervilha, mostra-se e oiço a minha amiga Elish van Eijk, uma holandesa apaixonada por Portugal, dizer qualquer coisa do género: “Sinto por Lisboa o mesmo que senti com Berlim há uns anos, toda a gente queria ir para lá. A cidade atraía, todos queriam ter uma casa em Berlim.” O desejo e a espontaneidade de quem quer ter uma ligação ao nosso país está a crescer, seja para morar, fazer negócios ou apenas ter uma casa para vir de vez em vez.
Já não é só o sol, já não são só as praias! É a nossa alma, as pequenas coisas escondidas em pormenores delicados e ricos, é a nossa história, a nossa vivência, as nossas heranças, o nosso património imaterial que chama a atenção. O que antes não se via e não se mostrava (por vergonha ou desvalorização) e agora se vê, aos poucos, com uma nova geração de portugueses a resgatarem significados subtis e intensos do ser português, mostrou ser mais forte que muitos atributos externos de ostentação (Centros Comerciais com fartura, Auto-Estradas caras que quase não têm uso, estádios de futebol para freguês ver). Coisas de encher o olho, mas que já não enchem nada… não é disso que se trata agora, não é isso que se deseja.
Recorro novamente às palavras da Elish que dizia ao dono de um pequeno e muito recente restaurante de Lisboa (o Dona Quitéria), quando este lhe perguntava se tinha gostado da comida: “Mais do que ter gostado da comida, sinto que vocês têm um orgulho e um carinho muito grande pelo vosso património.” Podemos dizer que em alguns sítios já começa a ser assim porque mais do que uma massificação economicista, é a beleza e o conteúdo do que se oferece ao outro que conta, mais do que uma sala com 200 lugares, prefere-se uma sala para 18 amigos da casa (porque é assim que são tratados os fregueses, como amigos da casa), mais do que paredes lisas, desejam-se paredes com histórias (O que é que existia ali antes? Quem era a Dona Quitéria? O que vendia? E aquele senhor na pintura?).
Lisboa, aliás, Portugal, começa a dar largos passos em direcção à sua fase mais adulta. Começa a deixar para trás uma espécie de adolescência envergonhada, acanhada, que esconde o seu próprio corpo e, passo a passo, desprende-se dos seus complexos mais angustiantes.
Lisboa já não é menina e moça, todo um país lhe segue caminho. E, se antes ouvia vozes desvalorizantes que perguntavam: “O que vem cá fazer? Aqui não há nada, somos um país pobre.” Agora oiço mais: “Aqui há tanta coisa para se fazer! As pessoas é que não vêm para cá!”
Hão-de vir para esse cá, hão-de vir.
(Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me/ Imagem: Elish van Eijk)