Os objectos, quando conhecidos, trazem-nos à memória histórias próximas, pessoais ou simplesmente histórias de terceiros que podem ligar-se às nossas próprias histórias.
Recordo as idas ao cabeleireiro quando era mais pequena. Recordo o cheiro do farandol dos cabelos armados das mulheres da terra, das lacas, dos amaciadores, dos shampoos, das conversas e das risadas sinceras que ecoavam na sala abafada pelo calor dos secadores de mão. Aquela intimidade espontânea deixava-me feliz. Ficava imersa naquelas narrativas soltas, cómicas, bem dispostas. Arranjar o cabelo trazia alegria e doçura àquelas mulheres que liam a revista crónica enquanto esperavam pela sua vez.
A estas memórias acrescento mais histórias, de outras mulheres, vindas de um filme chamado Caramel, onde cinco mulheres mostram a vivência de uma Beirute a partir de um pequeno cabeleireiro onde o caramelo é usado como ingrediente secreto para a depilação. Não poderia haver maneira mais doce de levar a cabo esta tortuosa tarefa para as mulheres (por favor, vejam o filme, é mesmo delicioso, doce!).
À medida que me vou apercebendo do quão próxima a vivência destas mulheres é da vivência desencadeada pelas minhas memórias, Beirute aproxima-se também de Portugal e a nossa essência torna-se irmã.
Percebo ainda mais a proximidade quando olho para o trabalho de Hala Salem Achillas para a Fine & Candy, libanesa de nascença, mulher do mundo por opção. Hala Salem Achillas trouxe doçura aos novos cadernos da Fine & Candy por vias da sua imaginação e das influências das várias viagens que fez pelo mundo e que, quero acreditar também, trouxe com ela um pouco da Beirute de Caramel, expressa nas cores vivas nos diferentes cadernos da sua nova colecção.
Esta é a doçura dos objectos Fine & Candy, a unir realidades improváveis… tão próximas.
Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me/ Imagens: Fine & Candy