O meio citadino é, por si só, mais visível e audível que o meio rural. Os grandes eventos são maioritariamente realizados nas grandes cidades, nas capitais, nas ditas urbes deixando de fora lugares com suposto potencial para um papel de anfitrião. Esta discrepância, apesar de ainda ser acentuada, começa a dissipar-se, havendo quem trabalhe arduamente no sentido de abrir brechas importantes neste tipo de modus operandi. 

Descentralizar para que a desertificação deixe de ser uma realidade crescente no interior do país, tem sido uma das importantes contribuições da MOITAMOSTRA  – Encontro D’Artes em Meio Rural, promovido pelo Grupo Experimental de Intervenção Cultural, desde 1990, na Aldeia da Moita (Viseu). Um trabalho continuado, persistente que tem trazido às gentes daquela região um conjunto de eventos culturais no domínio das Artes Plásticas, Teatro, Música, Dança, Literatura, Audiovisuais e outras de âmbito artístico.

Encontros como este trazem coisas aos de lá, aos da terra e os de lá, por sua vez, dão coisas aos de fora, aos que chegam e encontram novas paisagens, novas gentes, novas vidas, rotinas, olhares. A arte que trazem altera-se com com o lugar, não lhe fica indiferente. Há convívio, mistura, troca, partilha, debate de ideias, criação, intervenção… coisas que só um Meio Rural poderá permitir por ter uma unicidade muito própria.

Descentralizar é uma forma de mostramos o país que temos, de partilharmos lugares onde também é possível fazer e criar coisas que “tocam”, que estão para além da linha litoral, linha esta que tem vindo a “quebrar” Portugal em dois, que nos desequilibra.

Há lugares de criação que, apesar de não terem tanta visibilidade, têm vindo a emergir e a demonstrar que nem tudo se passa em Lisboa ou no Porto.

Portugal é maior e mais interessante do que aquilo que fazemos dele. 

(Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me)