Estou de férias. Depois de um verão sem ir “a banhos”, o descanso chegou com os dias mais curtos, mas dourados, do Outono. Saímos de Lisboa na direcção norte e a primeira paragem turística foi em Conímbriga, que nunca tinha visitado.
Quando chegámos, fomos muito bem recebidos pelo responsável pela bilheteira, que nos sugeriu logo o itinerário,
“aproveitem o solinho para fazer o percurso exterior, e depois quando ficar mais fresquinho visitem o interior do Museu”
e passou a cobrar-nos a entrada. Dois bilhetes de adulto, sem descontos, totalizaram oito euros. Contou-nos depois que a parte que presentemente está escavada e estudada se supõe ser uma porção relativamente pequena do antigo aglomerado urbano, apanhando praticamente só o centro da cidade.
Passámos então à visita auto-guiada, em que os diferentes locais de interesse estão devidamente identificados e claramente explicados. Há diagramas que mostram uma possível reconstituição, textos explicativos e muita informação. Por detrás disto, só posso imaginar que haja um trabalho sem fim, de há muitos anos para cá, por equipas altamente especializadas.
O bilhete custa quatro euros. Parece-me muito acessível, até bastante barato.
Faço este comentário mas quero aqui explicar que sou de opinião de que a cultura deve ser acessível a todos e não só a elites, e nesse sentido, este valor está muito ajustado (e ainda existem vários descontos para crianças, seniores e grupos). Contudo, num período de cortes a torto e a direito como aquele que vivemos, sobretudo em áreas que são consideradas como de menor importância, como a cultura – lembrem-se de que deixámos de ter um ministério dedicado nesta última legislatura – seria de esperar que este tipo de monumentos tivesse a necessidade de subir os valores das suas entradas para se conseguir financiar. Se foi esse o caso em Conímbriga, o ingresso continua a ser bastante barato, sobretudo tendo em conta todo o trabalho de bastidores que implica a musealização destas ruínas.
É por isso que acredito que nós, o público, temos um papel muito importante para contrariar essa política de cortes e mostrar a quem quiser ver que nos interessamos e apoiamos a nossa cultura. Temos de ser nós, os consumidores, a mostrar que vale a pena investir em museus e teatros, em cinema e livros; no fundo, mostrar a quem decide que vale a pena investir em cultura. Porque é através da cultura que construímos a nossa identidade enquanto país, o desinvestimento tem consequências absolutamente negras não só para as presentes gerações como também para as futuras. E é por isso que nós, nos dias de hoje e dentro das possibilidades e interesses de cada um, temos de estimular a produção cultural e escolher cuidadosamente onde pomos os nossos (parcos) euros.
E portanto, queridos leitores, visitem Conímbriga, visitem aquele museu por onde passam todos os dias mas onde nunca entraram, descubram a biblioteca pública que têm perto de vocês e assistam a todos os espectáculos que conseguirem. Não vá o governo pensar que não queremos saber e retirar-lhes também a eles os fundos – porque aí, quem perde somos todos nós.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)