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5 de Outubro

8 Outubro, 2012

Para quem está longe, as comemorações da instauração da República Portuguesa passam um pouco ao lado. Primeiro, aqui não é feriado. Segundo, os interesses panamenhos em Portugal são poucos ou nenhuns – e o contrário também me parece verdadeiro.

Adicionando a diferença horária, as celebrações são aquilo que vejo nos jornais online. E este ano vejo a bandeira ao contrário.

Não consigo parar de pensar que não foi acaso. E também não me parece que tenha sido um assalto ao símbolo nacional. Sinto, pelo contrário, que foi uma mensagem que os nossos líderes – os presentes, claro – quiseram passar aos portugueses.

Explico: na Constituição Americana está previsto o içar da bandeira nacional ao contrário para transmitir uma mensagem de alarme e de perigo iminente. Pois neste caso, meus caros, acho que a mensagem foi a mesma. O nosso Presidente tem tido uma voz moderadora no meio de toda esta crise. É provável, com os acontecimentos de hoje, que estivesse a dizer o que tem calado e a transmitir uma mensagem em código, de alarme e de perigo iminente.

Vejo Portugal em perigo iminente de paralisar a sua economia e de perder toda uma geração de trabalhadores, produtores, inovadores, pensadores. Entendo a necessidade de corrigir erros do passado, cortar despesas e fazer uma melhor distribuição dos recursos, para além de incutir uma cultura de mérito pelo esforço, pelo trabalho e pelas ideias e iniciativas. Mas neste momento, o estrangulamento da sociedade vai obrigar a um êxodo massivo de quem não arranja emprego, não consegue pagar as contas ou pura e simplesmente quer uma vida com um pouco menos de preocupações.

Quando é o próprio Primeiro-Ministro a sugerir a emigração,  quem vai estar em Portugal dentro de dez ou quinze anos? Quem vai fazer o país andar para a frente nos próximos dois anos, nos próximos vinte? O país não se faz só de uns, faz-se de todos. E, se não for um lugar onde se possa viver, trabalhar e crescer, teremos de optar pela emigração – ou abraçar uma carreira no mundo do crime.

Por isso, caros leitores, acho que esta bandeira ao contrário não foi fruto do acaso. Foi uma mensagem clara, ainda que simbólica, de alguém que não consegue fazer mais que isto.

Teremos de ser nós.

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)