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Viva o verde

3 Dezembro, 2012

A Cidade do Panamá, apesar de única pelo movimento que o tráfego do Canal aqui gera, tem uma oferta cultural bastante diminuta. Enquanto que na nossa “vida anterior” em Buenos Aires tínhamos sempre um museu ou galeria que visitar, um café ou um bar novo para experimentar ou uma montra de um artista independente para admirar, aqui, nesta América mais central, o mesmo não se passa.

Quando aqui chegámos, há já quase três anos, estabelecemos o desafio de ir conhecer um lugar novo por fim-de-semana. Assim conhecemos o mercado de abastecimento, a biblioteca nacional, as eclusas de Miraflores, entre muitos outros lugares. Passado algum tempo, o desafio esgotou-se. Não só as opções eram cada vez mais escassas como o cansaço da semana se acumulava cada vez mais.

Isto até descobrirmos o prazer dos trilhos no meio da floresta tropical, tão rica em vida e em surpresas. Começámos por caminhos de montanha em viagens de fim-de-semana, mas agora, descoberto o prazer, estamos a “importá-lo” para quando ficamos na cidade. É que aqui, como acontece, aliás, noutras cidades do mundo, temos a floresta praticamente à porta de casa.

Enquanto que em Buenos Aires havia um jardim em praticamente cada bairro, e os fantásticos bosques de Palermo a resistir estoicamente à pressão da urbanização, aqui no seio da cidade não acontece a mesma coisa. Há alguns equipamentos públicos, mas relativamente dispersos e pequenos. O caso muda radicalmente de figura quando saímos, ainda que só um bocadinho, do centro.

O Parque Metropolitano está colado ao extremo norte da cidade e é a porta de entrada para uma zona de parques naturais que acompanham o traçado do Canal até praticamente ao lado atlântico. Este Parque tem trilhos, dispõe de vigilância e informação e, como recompensa pelo esforço da subida, tem um miradouro de onde se vê a Cidade, à beira do Pacífico, e a floresta a contornar o Canal.

E de que forma é que isto tem que ver com Portugal? Pois da seguinte: em época de crise e de contenção, por que não aproveitar o ar livre para recreação e entretenimento baratos? Basta levar água e lanche de casa para fazer de um passeio na natureza um belíssimo programa de fim-de-semana, a custo muito reduzido. Dentro das cidades temos jardins e matas municipais; fora das cidades, mas perto delas, temos vários parques naturais.

Se a falta de tempo ou de transporte são condicionantes, um dos vários espaços verdes municipais constitui excelente cenário para um piquenique. O meu querido Jardim da Estrela, por exemplo, já me acolheu nalgumas belas sestas, em corridas pelos seus caminhos e em tardes passadas no parque infantil com as minhas sobrinhas.

Que a crise e as suas inúmeras limitações e condicionantes nos façam ser mais criativos a procurar alternativas, nos ajudem a apreciar mais o património que já temos, mas que muitas vezes desconhecemos, e que, no final, possamos olhar para trás e ver como do pouco podemos desfrutar muito.

Esta foi uma das minhas aprendizagens aqui na Cidade do Panamá.

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)