Em plena era digital, onde os ecrãs imperam e a morte do impresso é quase uma certeza para muitos, surge um oásis de papel. As notícias que nos chegam falam disso mesmo, a era do impresso está a morrer e ela espera pela execução da sua sentença num espécie de corredor da morte.
Mas há oásis, e em Portugal nasceu um. Chama-se serrote.
As edições serrote nasceram da paixão comum do Nuno Neves e da Susana Vilela por cadernos impresso com tipos móveis (uns “tipos” com ar de caracteres antigos em chumbo do tempo do Gutenberg – século XV – usados em prensas móveis).
Parece uma paixão estranha, mas não é! É graças a estas paixões que as coisas não se perdem. A arte da impressão não tem de se fazer substituir porque digital e impresso podem assim coexistir, mesmo que num nicho mais pequeno… mas não perdido.
Quem não se lembra de aprender a escrever em cadernos de duas linhas? Quem não gosta de desenhar e escrever nas toalhas de papel dos restaurantes? Ter um caderno sempre à mão para fazer esquissos, escrever algo, anotar.
Por vezes regresso aos meus antigos cadernos de escola ou a outros que guardei e onde deixei pensamentos, anotações, descrições. Regresso porque são como uma viagem de memórias. As coisas estão ali, impressas pela tinta da caneta, pelo peso da minha mão sobre a mesma. A minha escrita sempre foi mais “pesada”, os desenhos, mais “leves”. O papel dá-me mais do que a leitura da escrita, fala também de quem o escreveu.
E depois temos os livros, o cheiro dos livros, a textura, o passar das páginas, o relevo das letras, das imagens. A tinta das letras tem um cheiro diferente da tinta das imagens. Aprecio um livro ou um caderno escrito tal como aprecio um copo de vinho.
A serrote tem uma missão (para mim), a de assegurar a permanência e continuidade de relíquias impressas do imaginário português. Apesar de muitas edições já estarem esgotadas, a linhagem não se esgota e novas colecções estão ainda por nascer.
Na serrote há paciência e tempo.
(Imagens: Edições serrote/ Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me)