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As aldeias marcaram a minha vida. Uma em particular, o Azêvo, lugar de infância de algumas das gerações da minha família (avó e mãe). Perto do Azêvo, aldeia centro daquela zona, surge de um dos seus lados a Madalena (esta sim, terra da minha avó e da minha mãe), do outro, numa cumeada, a aldeia Velha do Azêvo, mais conhecida por Aldeia. O Azêvo e a Madalena ainda vingam, dito assim, muito à moda de quem vive naquelas bandas, apesar de terem perdido habitantes e de estarem em constante risco de desertificação, ainda vingam.

A Aldeia não, não vingou. Sucumbiu aos tempos modernos transformando-se num lugar deserto, sombrio, apenas visitado pelos habitantes das aldeias adjacentes no dia de finados (Dia de Todos Os Santos) para que familiares possam prestar as suas homenagens aos que ali ficaram para sempre. Neste dia a Aldeia ganha um pouco de vida, a tradição religiosa dos finados garante-lhe um dia de existência. 

Portugal tem vindo a perder aldeias, no entanto, outras há que ressurgem, fruto do regresso à terra e do esforço de quem deseja fazer vida longe das cidades (a Aldeia da Mata Pequena é um bom exemplo disso). Outras ganharam uma vida fictícia para além da real (Beirais, a aldeia mais famosa de Portugal que afinal é Carvalhal, ali para os lados do Bombarral).

Na Associação Aldeia, com sede no Vimioso, trabalha-se para que as aldeias do nosso país não sucumbam à vontade dos tempos, para que a sustentabilidade das mesmas seja uma realidade preservando, recuperando e divulgando os valores culturais e naturais tão próprios do mundo rural.

A ruralidade também pode ser moderna, dinâmica e mais integrada. Cada aldeia tem uma especificidade muito própria, histórias, tradições, lendas, paisagens únicas. A Aldeia pretende resgatar e fazer sobreviver toda esta envolvência, inerente a cada aldeia. São vários os projectos lançados pela Aldeia (conservação de espécies em vias de extinção, preservação do mundo rural, turismo rural, criação do CEIFA). Desmistificar a ruralidade é um processo difícil mas, possível e que tem vindo a acontecer.

O rural entra todos os dias pelas nossas casas através das histórias criadas pelos habitantes de Beirais. Aos poucos, a ruralidade mostra-se e revela-se, interessante, sedutora, romântica, moderna, dinâmica.

Beirais não é apenas ficção.

Portugalize.Me_Associação Aldeia

(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Imagens: Associação Aldeia)