É um achado, um pequeno cantinho onde a Dona Generosa e os seus clientes trocam algumas impressões sobre o tempo, sobre alguns temas da actualidade, sobre a vida. Mesmo assim não se fala muito. Esparsas palavras murmuradas às escuras, apenas com a luz que vem de fora, através das fitas das portadas da entrada. Quando alguém entra de novo, acende-se a luz. Há que poupar porque a clientela já não é muita, só os mais velhos regressam assiduamente para uma cerveja ou um copo de bagaço.
Os mais novos acham-lhe graça, uma relíquia a ser preservada, as raízes da terra, das gentes de Pinhel. Sim, Pinhel, ali, perdida a escassos quilómetros da Guarda. Uma cidade bicentenária que quase ninguém conhece, quase ninguém visita.
Apesar dos vários esquecimentos inerentes a uma cidade pequena da beira alta, a Dona Generosa leva o seu negócio avante. Já lá vão uns bons 30 anos, uma juventude. A porta está sempre aberta e quando não está, toca-se à porta da Dona Generosa. O próprio nome faz-lhe jus. Por vezes há joaquinzinhos em molho de escabeche, uns ovos cozidos, uns pastéis de bacalhau. Há quem leve uma lata de sardinha no bolso e a abra ali: “Dona Generosa, um molete para comer estas sardinhas!”. Enchem- se as barrigas da terra.
Sei que a Dona Generosa estará sempre ali, de portas abertas e mesmo de luzes apagadas, a tasca convida, o cheiro da tasca chama. É impossível passar- se desapercebido sem sentir-lhe o cheiro. Que a sua generosidade continue de portas abertas.
(Texto e imagens: Raquel Félix/ Portugalize.Me)