São várias as pessoas que, ao ouvir que estamos de volta a Portugal, depois de vários anos emigrados, reagem com espanto: “agora que o país está tão mal é que vocês querem voltar?”
Esta frase já nos foi dita mais que muitas vezes, e a verdade é que sim, agora é que estamos a voltar. Por muitas razões, algumas delas puramente afectivas, outras também práticas.
É verdade e ninguém nega que o país está a atravessar um momento particularmente difícil. Mas para quem esteve fora vários anos é mais fácil apreciar as muitas coisas boas a acontecer.
Noutro dia andava pela Baixa, à procura de espaço para atelier, e contavam-me que havia muitos anos que a Baixa não tinha a vitalidade que tem hoje, com animação até depois do fecho do comércio. Que tinha os seus problemas, claro, mas que gozava hoje de uma vitalidade que há muito não tinha.
Hoje, ao ouvirmos mais uma vez a mesma reacção, demos a resposta que damos sempre, que tudo depende da perspectiva. Em pleno processo de compra de casa, tudo é mais fácil aqui que no Panamá ou na Argentina, os países onde vivemos antes. Tudo o que se relaciona com administração pública, pagamentos e tecnologia é mais célere cá – e não depende de ter um conhecido em determinada repartição.
Vejo a cara de incredulidade dos meus interlocutores quando lhes conto a trabalheira que era pagar facturas na Argentina: só em determinados balcões (que ironicamente se chamavam de “Pago Fácil”) e com dinheiro contado. Ora, num país que sofre de escassez de moedas, era extremamente difícil ter o dinheiro certo ao centavo de peso. Ou quando conto que, no Panamá, nada ficava resolvido à primeira tentativa, nem sequer algo singelo como fotos tipo passe.
Aqui em Portugal, fiz o pagamento de várias despesas relacionadas com a compra da nossa casa em poucos minutos, por homebanking ou multibanco. No Panamá ou na Argentina teria necessitado dias e diversas visitas a bancos, repartições de finanças e notários para obter o mesmo resultado.
Não, Portugal não é um país perfeito, mas talvez precise de um pouco mais de carinho de todos nós, portugueses. Saibamos valorizar o que funciona para podermos mudar o que ainda não está bem.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)