O tempo dita algumas das regras da vida. Ele inscreve-se na memória que temos das coisas que nos rodeiam, na sua durabilidade, finitude das mesmas, na continuidade… o tempo é uma espécie de “moldura”, cada pessoa, cada objecto tem a sua.
Nutro um particular carinho por empresas familiares. De cada vez que descubro que o tempo continua a dar-lhes “moldura”, apercebo-me da sua importância para a história do tecido empresarial do nosso país. Elas são a “raiz” desse tecido, os fios que o ligam.
A Cutelaria Ernesto Pires & Filhos de 66 anos de idade, conta com uma tradição que ultrapassa a sua própria existência. O nome vem do fundador Ernesto Pires mas, os ensinamentos e a arte vieram da sabedoria do seu pai, Albino Pires (ferreiro de profissão) que fabricava facas e foices de forma artesanal. A pequena aldeia do Verdugal, ali para os lados da Guarda, é lar de uma empresa que não se faz pequena, que tem vindo a crescer de forma sustentada, paciente e consciente.
O selo que identifica as facas do Verdugal (as gentes dali chamam-nas assim) permite um reconhecimento imediato das mesmas e a ele associamos qualidade, rigor, inovação e preservação da identidade de uma tradição artesanal que o tempo por vezes teima em fazer desaparecer. A teimosia da família Pires é mais persistente, toma as rédeas do tempo de forma a não perder a herança do Sr. Albino.
Lá para os lados da Guarda há uma casa, a casa do ferreiro Albino, onde se continuam a fazer boas facas, boas foices porque ali não entram “espetos de pau”.
(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Imagens: Cutelaria Ernesto Pires & Filhos)