É fácil distrairmo-nos nos dias que correm. Os dias são mesmo assim, feitos a correr. Talvez as imagens ganhem na competição da atenção, mais do que os sons, por estarmos “treinados” por ecrãs para que assim seja. Levamos os olhos e os ouvidos quase sempre ocupados, distantes da realidade envolvente. Estamos sempre noutro lugar. Muita coisa passa ao lado. Banalizamos o tempo real. Damos lugar ao real time de coisas e coisinhas. Um contra senso. Vicissitudes de um tempo sem tempo.
Mas não nos distraiamos. Falemos de sons. Prestem atenção. Onde estão? Que sons conseguem ouvir e distinguir? Qual a frequência dos mesmos? Tornaram-se numa rotina, são diferentes de ontem? Quando fecham os olhos, conseguem identificar cada um? Conseguem construir uma história à volta deles?
O Sons da Minha Rua é um pouco como este exercício. Uma narração sonora de lugares onde os sons mais característicos são ampliados à luz do olhar porque as imagens apenas contam uma parte da história. Apesar do nome, as imagens estarão sempre lá, bem como as falas e as histórias das pessoas, mas serão sempre os sons a dar ritmo e o mote ao documentário.
“Apercebemo-nos que cada lugar tem uma identidade sonora muito própria, que os sons são muitas vezes banalizados e sentidos como meros ruídos soltos e desconexos num determinado espaço. Esta impressão sonora precisava de ser captada e narrada. Dar-lhe um sentido. Captar a atenção das pessoas para coisas tão simples, como o bater do martelo dos bifes da Dona Fernanda ou os diferentes sons que o Sr. Ribeiro consegue fazer com as mãos. Estes sons acontecem ali. São dali, daquele lugar, daquelas pessoas.” – Raquel Félix
E agora é continuar. Continuar pacientemente a captar o que nos escapa tão facilmente. A aguardar, sentadas ou de pé, pelos sons, observando atentamente cada movimento, cada pormenor. A olhar e a ouvir, mesmo quando se fazem longos silêncios porque os sons também permitem isso.
O próximo episódio está para breve. Sendo assim até breve!
Texto e imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me