Quem já pensou em emigrar: ponha a mão no ar.
Vivo no estrangeiro vai para seis anos (desta vez) e já tinha outros nove no currículo (de outra vez). A emigração faz parte da vida desde os meus nove anos, com tudo o que isso implica.
Aqui no Panamá, temos a sorte de ser imigrantes privilegiados, de viver protegidos pelo poder de uma grande multinacional que nos dá uma série de benefícios; benefícios esses que os nossos pais, tios ou vizinhos que emigraram para França, para a Alemanha ou para a Suíça, no século passado, não tiveram.
Conto-vos duas histórias:
A primeira, sobre a minha fantástica colaboradora, uma nicaraguense com uma vontade de vencer na vida que a leva para a frente. Tem uma dessas vidas difíceis, com um filho que ficou para trás, ao cuidado dos avós e um país ao qual – para além do filho – não tem razões para voltar. No Panamá, trabalha horas seguidas, faz mais de duas horas de transportes entre a casa e o trabalho, levanta-se todos os dias às quatro e meia da manhã e chega a casa já de noite. Do seu salário, envia 90% para a mãe, que lhe toma conta do filho. Há dez anos a viver no Panamá, não conseguiu poupar um dólar. Para que vejam, só a legalização custou-lhe o equivalente a quase quatro salários.
A minha querida colaboramiga contou-me, quando voltou de férias, que os irmãos e os pais, na Nicarágua, a acusavam de já não querer lá ir, não querer saber deles, e – pior ainda – não querer saber do filho. Acusaram-na de andar de festa em festa e de usar “perfumes caros”, rodeada de dólares.
Pausa nesta história, vamos a outra.
Aqui há uns anos, vivia eu em Portugal, tinha vários amigos a viver no estrangeiro. Quando um dos vários casais que vivia fora nos visitava, contavam-nos que, sempre que chegava o momento de pagar a conta num restaurante, o irmão (que vivia em Portugal) assumia que o emigrante iria pagar a conta. Porque, lá está, vivia rodeado de euros.
E agora voltamos ao presente, ao aqui e ao agora. A vida de emigrante parece glamorosa a quem está de fora, mas, deixem-me que vos diga, não o é. O que parece glamoroso é apenas a necessidade que o emigrante tem de preencher o vazio que a ausência gera. O tempo que era passado com família e amigos é agora tempo livre, que quem está longe – eu incluída – preenche a visitar lugares novos, a ler livros novos, a conhecer pessoas novas.
Pode parecer exótico – e é exótico, na medida em que é diferente. E pode parecer glamoroso, mas não é. É uma estratégia de adaptação a um país novo, eventualmente a uma língua nova, uma cultura nova, pessoas novas, mentalidades muito diferentes.
O glamour é dado pela lente da distância, pela sonoridade estrangeira dos nomes e dos lugares, pelas paisagens diferentes. Porque a realidade não é nada glamorosa, é feita de um dia-a-dia, de uma rotina, de uma luta por criar uma nova vida num novo país.
Por isso, a emigração não deve ser encarada como um luxo e os emigrantes como uns sortudos. Quem está fora, paga-o todos os dias com o esforço da adaptação, com o vazio da ausência e a impotência da distância.
Para que conste, a emigração também é uma fantástica escola de vida. Mas as propinas, essas, são muito altas – e não se pagam em dinheiro.
(Texto e imagens: Ana Isabel Ramos)