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Portugalize.Me_These New Puritans_Elisa Rodrigues

Em 2011, um grupo rockeiro trouxe vários instrumentos de sopro (pena não termos uma expressão tão audio-emotiva como o inglês brass instrument) para o palco mais lá ao fundo do Alive e ofereceu uma sinfonia desconcertante para os poucos (muito poucos) que fugiram aos Coldplay no palco principal para os receberem. Foram os These New Puritans que, esta semana, regressaram ao nosso país para dois concertos onde só tiveram metade da recepção calorosa que não tiveram no festival de Algés – no Porto tocaram para muito pouca gente outra vez, em Lisboa a casa estava mais composta.

A razão pela qual estou a escrever sobre os britânicos no Portugalize.me é só uma e chama-se Elisa Rodrigues.

Ao contrário do que a Pitchfork escreveu na altura neste link (e valha-me Deus de estar a corrigir a Pitchfork, mas neste caso estavam errados), a Elisa não é fadista. O site norte-americano padeceu daquele mal redutor de classificar tudo o que é português como primo do fado. Ah é portuguesa, então canta de xaile preto e garganta emocionada. Se calhar a Elisa Rodrigues canta fado em privado, mas o que nós lhe conhecemos é a corda vocal jazz. Nomeadamente o trabalho com o Júlio Resende (pianista) que os dois andam a mostrar por esse país fora… Na crítica ao disco, publicada aqui, a Pitchfork redimiu-se e já chama a Elisa de Portuguese jazz vocalist. Eu concedo que possa haver alguma confusão. O Resende também lançou agora um disco ligado à Amália Rodrigues e ao fado. E também acompanha Rodrigues, com o nervo escapista que lhe conhecemos, numa versão de “Estranha Forma de Vida” de Amália, só que ao lado de versões dos Nirvana, dos Beach Boys, de Bill Withers…

Mas o que nos interessa é que o Jack Barnett dos These New Puritans ouviu a “nossa Elisa” e gostou tanto que a convidou para gravar com o grupo o novo disco “Field of Reeds“. O “pobre” do álbum anda a ser chamado de acústico, o que a mim faz-me sempre tremer. É acústico porque não tem guitarras eléctricas? Pronto, é o menos rock dos britânicos. Isso sim. Usa o piano onde antes se ouvia o baixo a arranhar. Tem momentos de inspiração profunda quando nos anteriores, sobretudo em “Beat Pyramid“, apareciam ataques cardíacos. Tudo bem.

E a voz de Elisa? É cirurgicamente usada com emoção primeiro lá ao fundo em “The Way I Do“, depois com inquietação em “Spiral“. O resultado é das coisas mais bonitas que se pode ouvir neste ano de toma lá dub dá cá Joy Division com madeixas. E está nas lojas desde Junho.

Pergunto-me eu onde andam os destaques ao facto de um dos mais interessantes grupos alternativos do momento (vá, do Reino Unido) gravar, fazer concertos e apresentar-se em fotografias oficiais com uma portuguesa? Pergunto-me se o tratamento dos media seria diferente se Elisa fosse realmente a fadista que os americanos a quiseram fazer? Barnett, por seu lado, compara-a, só, com Billie Holliday… O que eu também gostaria é que, se a Pitchfork achou que era importante dizer que a Elisa Rodrigues era portuguesa primeiro e cantora de jazz depois, porque não explana mais sobre essa distinção à frente. Diz apenas que a voz de Rodrigues “cintila” na primeira faixa “The Way I Do“?

Numa sessão ao vivo dos TNP para o jornal The Guardian, Elisa apresenta o grupo e um dos temas, “Fragment Two“, em português. Estava na Inglaterra, perante um dos mais conceituados jornais do país, mas a cantora expressa-se na sua língua.

Numa das fotografia com a banda, é a única que olha directamente para a câmara, com os seus olhos castanhos desafiadores…

(Texto: Rita Tristany Barregão)