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Rodrigo Leão é elegível para um Óscar este ano. Isto já não é notícia em lado nenhum claro, mas é bom de dizer. Olhando para o nosso lote de músicos portugueses, nem é de espantar que seja o nome do ex-Sétima Legião e Madredeus que nos aparece na não tão pequena assim lista de 114 compositores pré-seleccionados pela Academia norte-americana para a categoria de Melhor Música Original (Best Original Score). Falamos claro do trabalho do compositor para “Lee Daniel’s The Butler”. Leão foi escolhido a dedo por Daniels porque o realizador é fã de uma das canções do disco ‘profeta’ de 2006, “Cinema” – a bem da verdade, Leão já se andava a fazer ao piso da sétima arte há muito tempo.

Quanto a hipóteses de chegar ao exclusivo grupo de cinco nomeados (costumam ser, mas a Academia às vezes gosta de reduzir os candidatos), são mesmo muito remotas. “O Mordomo” estreou em Agosto com muito boas perspectivas de se aguentar bem firme quando chegassem os pesos pesados dos prémios mais para o final do ano, mas o hype foi desaparecendo quando entraram em cena filmes como “Gravity“, “American Hustle” e sobretudo “12 Years a Slave“, que afastou o filme de Lee Daniels do lugar reservado às grandes histórias afro-americanas do ano. De resto, o filme lutou desde o início com problemas de copyright do título que teve de incluir no final o nome do realizador, o que vejamos, não abona a favor de ninguém.

Nada disto afecta o trabalho intocável de Leão na música. Aliás, a elegibilidade para o Óscar até foi de certa forma uma surpresa, já que aparecem no filme excertos de canções que o compositor já editou, o que normalmente exclui este tipo de trabalho das nomeações da Academia. Além disso Leão é português, como sabemos, e esse é um dos factores que mais contribuem para estas contas.

A Melhor Música Original é premiada nos Óscares desde 1934 e foi largamente dominada pelos filmes musicais e mais tarde pela Disney até ao final dos anos 90. É claro que até aqui, já haviam compositores que se tornaram lendas em Hollywood como Jerry Goldsmith, John Barry e o campeão de nomeações John Williams (que deverá aparecer de novo este ano). Mas os 2000 trouxeram de facto uma preponderância dos filmes dramáticos no que toca à música. Só que o que nos interessa aqui são as nacionalidades. Ou melhor, os compositores que trabalham fora de Hollywood.

Se nos anos 90 houveram dois ‘estrangeiros’ do sistema a ganharem o Óscar, o argentino Luis Bacalov e o italiano Nicola Piovani, convém dizer que foram por filmes italianos com imensa projecção internacional, como “O Carteiro de Pablo Neruda” e “A Vida é Bela“. Nos 00s, o argentino Gustavo Santaolalla levou para casa duas vezes o prémio por dois filmes hollywoodescos como o são “Os Diários de Che Guevara” e “Babel“, o chinês Tan Dun prevaleceu pelo blockbuster “O Tigre e o Dragão” e o italiano Dario Marianelli chegou de vez a Hollywood com o prémio por “Expiação“. Nos 10s, o francês Ludovic Bource venceu pelo seu trabalho em “O Artista“, filme que levaria o Óscar para o Melhor Filme no final da cerimónia. Com tudo isto, falamos de três nacionalidades diferentes em mais de 20 anos de prémios. Não é portanto, uma categoria que fuja muito aos habituais da indústria.

Os Óscares são os prémios mais conhecidos do mundo (vá, claro, há o Nobel), mas os portugueses são completos alienígenas na sua órbita. Houve a co-participação na produção de “Belle Époque“, o segundo filme espanhol a levar para casa o prémio para Melhor Filme Estrangeiro em 1993. Desde aí os espanhóis já levaram para casa mais dois prémios nesta categoria, euquanto que Portugal nunca chegou sequer às nomeações. Também há o director de fotografia Eduardo Serra, que já recebeu duas nomeações para Melhor Fotografia e que já está há vários anos estabelecido em Hollywood (o seu trabalho com mais visibilidade foi ‘apenas’ nos dois capítulos finais de “Harry Potter“).

Apesar das nacionalidades à volta dos Óscares continuarem a ser pouco variadas, pelo menos na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, é um pouco triste não haver sequer uma nomeação portuguesa nos 66 anos em que existe esta categoria. É preciso fomentar uma política de promoção internacional não apenas cingida aos canais europeus mas virada para o mercado norte-americano. É um processo demorado que já devia ter sido iniciado há muitos anos pelo Estado mas tomado de assalto pelo investimento privado, para poder sobreviver à crise do financiamento público. Nem é por falta de qualidade, os dois mestres Manoel de Oliveira e João César Monteiro tinham vários filmes no cardápio com muitas possibilidades de agradar a um segmento mais auteur das audiências americanas. João Botelho e João Canijo conseguem perfeitamente atingir o equilíbrio entre arte e entretenimento que filmes como o brasileiro “Central do Brasil” ou o espanhol “Tudo Sobre a Minha Mãe“.  Até temos na nossa literatura histórias que já deram nomeações a outros, como a versão de “O Crime do Padre Amaro” (Eça de Queiroz) do mexicano Carlos Carrera.

Este ano o nosso candidato é a co-produção luso-francesa “As Linhas de Wellington“, que nem é realizado por um português ou portuguesa (a chilena e viúva de Raoul Ruiz, Valeria Sarmiento, assina a realização). As “Linhas” até poderiam ter o pedigree necessário para fazer boa figura lá fora (caso houvesse o tal sistema de exportação com critério) num ano em que o filme mais visto em Portugal (e um dos mais vistos de sempre) é falado em português, mas tem produção francesa, falo claro de “A Gaiola Dourada“. A obra de Ruben Alves levou para casa o prémio do público nos European Film Awards, por exemplo. Curiosamente, ou não, a música deste filme também é de Rodrigo Leão. 

As nomeações para os Óscares são anunciadas no dia 24 de Janeiro.

(Texto: Rita Tristany Barregão)