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A Feira dos Santos

3 Novembro, 2014

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A Feira dos Santos, para além de ser uma feira secular e lugar de romaria de todos os habitantes das 26 freguesias rurais de Pinhel, sempre teve um significado acrescido para todos os estudantes que estivessem a completar o 11º ano por aquelas bandas.

Por entre a azáfama da montagem das tendas, erguia-se uma pequena barraca, onde os quase emancipados alunos se dedicavam à venda de rifas. Ali, o 11º ano era uma antecipação do 12º ano. Ou seja, os pré-finalistas preparavam a sua festa de final de liceu um ano antes (porque o último ano era mesmo para estudar pois não havia cá tempo para estas andanças).

E tudo começava ali, com o pregão da rifa. Os prémios eram variados: bolos feitos pelas mães, objectos dados pelos lojistas da cidade, coisas que já não faziam falta lá por casa, construções manuais, um rol de produtos aliciantes que faziam destes estudantes feirantes profissionais.

Particularidades da Feira dos Santos de Pinhel.

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Lembro-me da feira ser muito grande, de levar muita gente, de ser confusa, quase que caótica (isto há uns bons anos). O espaço estava tão bem aproveitado que as ruas ficavam completamente cobertas pelas tendas dos feirantes. As vozes dos vendedores enrouqueciam de tanto gritarem. Sonora feira aquela! Largar a mão da minha mãe estava fora de questão.

No sábado passado regressei. Lá estava a barraca dos estudantes, mas a feira estava mais pequena, menos gente, mais espaço, menos confusão. As enormes tendas/ restaurante deram lugar a carrinhas com assadores elétricos verticais. As pessoas passavam e compravam os frangos para levar. Já quase não se come por ali, há poucas mesas e quase não cheira a carvão. Os pregões são menos, mais calados, mais envergonhados. Um jovem feirante tentava cativar os seus fregueses abanando uma nota de dez euros no ar: “É só 10, é só 10… qualquer peça, é só 10…”, e por entre um cerrar de dentes capto o seu queixume: “… nem assim compram…”, e retoma o pregão abanando efusivamente a nota.

Mas nas feiras não se vendem apenas os típicos barros, as cestas, as colheres de pau, os pacotes de meias a 5 euros, as cuecas, as roupas ditas de “marca”, as batas das senhoras, as sacholas, os alguidares, as panelas de ferro, os assadores de castanhas dos latoeiros, as feiras não são apenas lugares de venda, são lugares que acolhem determinados produtos que já só vemos por ali.

São lugares que acolhem movimentos muito particulares, rituais deliciosos que não existem noutros lugares (recordo o tão pratico pau de madeira com ponta bifurcada para que o vendedor possa retirar a roupa pendurada nos arames da parte superior das tendas).

As feiras são convívio, espaço de troca de impressões, de negociação, de socialização, de expressão. Ali não se compra sozinho, não se agarra num artigo e leva-se até à caixa para pagar. A compra é acompanhada, guiada pelo vendedor (privilégios do comércio tradicional, quer seja em feiras quer seja em lojas desta natureza).

Há atenção, carinho e se não der para experimentar o artigo, compra-se a olho, leva-se à mesma que na próxima feira a malta troca.

Para o ano haverá sempre mais!

(Texto e imagens: Raquel Félix/ Portugalize.Me)