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Acordávamos cedo. A noite anterior era de preparativos. A lancheira de tampa laranja enchia-se de petiscos, bebidas e alguns doces. Eu era pequena, muito pequena. Todos os anos, rumávamos a Barca D’Alva para vislumbrar as amendoeiras em flor. Umas vezes sozinhos, outras acompanhados por uma comitiva de amigos. Saíamos de Pinhel pela EN 221, passávamos Figueira de Castelo Rodrigo, Escalhão. A viagem não era muito longa mas, há 30 anos atrás, tudo parecia distante.

A viagem fazia-se ao som de cassetes. Lembro-me particularmente do ano em que eu e a minha irmã gastámos a faixa “The Final Countdown” dos Europe de tantas vezes que fizemos rewind. Ficávamos cerca de hora e meia a agitar as goelas até chegarmos ao destino. E lá surgia Barca D’Alva, junto às margens do rio Douro cheias de árvores brancas, as amendoeiras em flor.

Foi desta forma que, durante uns bons anos eu, a minha irmã, o meu pai e a minha mãe, dêmos as boas vindas à Primavera.

Sabores do Castelo

E depois das flores vinham os frutos, as amêndoas, que apesar de convivermos mais com elas pela Páscoa, nos dias de hoje, ganham novas formas, novos sabores. A amêndoa deixou de ser refém duma época, duma sazonalidade. Ganhou espaço, visibilidade e um valor gastronómico mais adequado ao seu potencial como alimento.

André Carnet sabe muito bem disso. Este francês, que se apaixonou por uma portuguesa e por Portugal, confecciona as muitas variedades de amêndoas que vende na loja Sabores do Castelo, em Castelo Rodrigo. Doces, salgadas, com ervas aromáticas, sementes de sésamo, flor de sal, café, chocolate, caramelizadas, fumadas… únicas e exclusivas segundo receitas secretas que as mãos de André conhecem de cor.

Dá vontade de encher as mãos de amêndoas e comê-las de uma só vez de tão boas que são, diferentes, saborosas! A amêndoa portuguesa tem ainda muito espaço para crescer, quer seja como alimento, ou por via das magníficas paisagens que proporcionam aos muitos viajantes que procuram a naturalidade de um país como o nosso.

E porque a amêndoa não é só o fruto em si, não faz sentido continuarmos a olhar para este pequeno fruto da mesma forma redutora com que sempre olhámos. Não acham?

Amêndoas Sabores do Castelo


Texto e Imagens 2 e 3: Raquel Félix – Portugalize.Me/ Imagem 1: Beira.pt