Archives For Ana Isabel Ramos – Uma portuguesa no Panamá

No Panamá, Portugal resume-se a Cristiano Ronaldo. Com muita sorte, há
um tal de "Mouriño". No linear do supermercado, quando temos sorte,
encontramos Lancers. E é isto. O que há cá, de Portugal, não tem nada
que ver com o Portugal de que gosto e com que me identifico.

Atenção, Cristiano: obrigada por tudo o que tens feito. Não fosse tu
existires, seriam poucos os que teriam ouvido falar em Portugal. Na
Madeira, talvez sim, já que muitos madeirenses emigraram para a
Venezuela e agora muitos venezuelanos se mudaram para o Panamá. Mas de
resto? Não, não há assim tanta informação e são muito poucos os que
realmente têm uma ideia de como é ou onde fica o nosso país. Ou mesmo
de que a Madeira é parte de Portugal.

É pena, não é? Mas é a verdade. Penso que Portugal se esforça por se
dar a conhecer no mundo, mas claramente o esforço não foi suficiente,
pelo menos até ao momento. No que ao Panamá concerne, temos um Cônsul
honorário que nem o 10 de Junho celebra. E perder o passaporte por
estas bandas é digno de um filme de aventura, já que a embaixada mais
próxima está em Bogotá. E para lá chegar precisamos de passaporte.*

Por isso, Portugal no Panamá é o que nós fazemos: pequeno-almoço à
quarta-feira; os pratos que cozinhamos em casa; as dicas sobre onde
encontrar bom bacalhau demolhado; o arroz de polvo (congelado e
galego) com um raminho de coentros, também eles difíceis de encontrar.
São as sandálias fly London que se usam todo o ano e resistem às
intensas chuvadas tropicais. As revistas portuguesas que se passam de
casa em casa, até a actualidade ser demasiado desactualizada. As
t-shirts da Zara de algodão biológico e feitas em Portugal.

No fundo, Portugal no Panamá é a saudade que todos nós temos,
misturada já com o sol e o calor do trópico, com a salsa e com o rum.

*Para o caso de alguém precisar, resolve-se com uma declaração da
polícia e uma carta da embaixada espanhola para poder chegar a Madrid,
e daí para Portugal. Mas é o passaporte mais caro do mundo, estamos
todos de acordo.

Por Ana Isabel Ramos (a viver no Panamá)