Archives For Ana Isabel Ramos – De regresso a Portugal

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Quando chegou o mês de Dezembro em 2007, os dias ficaram mais longos e ouvia, nas ruas, as festas que os alunos finalistas faziam ao terminar o ano lectivo, o meu mundo ficou ligeiramente ao contrário. Para mim, que sempre tinha vivido no hemisfério Norte, Dezembro coincidir com o final das aulas e o início do Verão pareciam conceitos vindos do espaço.

Incrível como temos sempre a percepção de que o mundo é tal como nós, únicos e num espaço concreto, o vivemos.

Lembro-me de conversas com amigos argentinos que me contavam como era bom celebrar o Natal à beira da piscina, com um lauto assado, numa daquelas refeições que duram horas. Aí, sim, identifiquei-me: há certas tradições que parece que se estendem no tempo e no espaço, e que não olham ao mercúrio no termómetro nem aos oceanos entre os continentes. Contavam-me dos dias longos que pareciam nunca mais terminar e do tempo para gozar de um dia de Verão em família.

Tudo isto me parecia fantástico, realmente, mas na verdade sentia mesmo era saudades dos meus Natais de infância, com frio lá fora e calor lá dentro, chá e chocolate quente, biscoitos de canela e farófias (eu adoro farófias. Danadas das claras de ovo, que me pesam toneladas no fígado.)

Noutro dia, escrevi um post sobre as minhas tradições de Natal para o blogue de uma amiga (podem lê-lo aqui, em inglês) e mencionava que a minha tradição era comer o perú de Natal no almoço de dia 25. Ao ler estas linhas, o senhor meu Príncipe exclamou, incrédulo, PERÚ?!, com maiúsculas e tudo. Na tradição dele, de apenas uma centena de quilómetros para norte, não é o perú que faz parte da ementa natalícia, mas sim o cabrito. E nos Natais actuais, comemos muitas vezes polvo.

Isto para voltar à ideia inicial de acharmos que o mundo é exclusivamente como nós o vemos, e raramente diferente. Mas não: o mundo é sempre diferente, e muito raramente como nós o vemos. O que é bom: afinal de contas, as tradições alheias deixam-nos mais ricos a nós, basta abrir os olhos e os braços e aceitar que quem está ao nosso lado pode pensar de outra maneira.

E nem sabem a vontade que tive de comer latkes durante o Festival das Luzes, ou Hanukkah, que acabou de terminar…

E vocês? Que tradições têm? E quais as tradições alheias que mais vos surpreenderam?

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)