Portugal é hoje um país de emigração, como aqui há anos foi de imigração e há ainda mais alguns anos foi de emigração. Diria que são fluxos normais e cíclicos, ditados pelas circunstâncias de cada época. Mas a emigração de hoje e a de há quarenta anos atrás são totalmente diferentes.
Na minha família existem emigrantes de várias gerações, em vários cantos do mundo. A emigração de outrora era para não mais voltar. As pessoas mudavam-se, não de armas e bagagens, porque muitas vezes nem as tinham, mas partiam para um novo país sem nada, sem perspectiva de trabalho, muito menos com perspectiva de voltar. Os tempos não eram famosos: entre guerra colonial e ditadura, Portugal não devia ser um país fácil. Não admira, portanto, que se partisse para sempre, muitas vezes clandestinamente, à custa de um enorme esforço pessoal e familiar.
A emigração de hoje, a portuguesa, tem alguns aspectos em comum com a anterior, mas poucos. Em comum existe a vontade de procurar uma vida melhor, vida essa que talvez more lá fora. Mas enquanto que antigamente se fugia da pobreza, da ditadura, da guerra colonial e da polícia política, hoje não é o medo que nos leva a sair, mas a vontade de abrir asas. Além disso, a maioria dos emigrantes actuais têm qualificações especializadas. Partem para um mundo tecnologicamente mais avançado, com vôos internacionais acessíveis, com chamadas e mensageiros gratuitos nos seus smartphones. Nos seus países de destino, muitos deles na Europa unificada, que dispensa vistos, vão para postos de trabalho qualificados e integram-se na nova sociedade, aprendem a língua e acedem a um nível de vida equivalente aos nacionais. Algo que muito raramente acontecia entre os emigrantes de outras gerações.
Mas o que mais noto na actual vaga migratória – ao contrário do que sucedeu com a anterior – é a vontade que muitos de nós temos de um dia voltar a Portugal. Quem partiu para França, Alemanha, Suíça ou Estados Unidos, nas décadas de cinquenta ou sessenta, viu os filhos nascer e crescer lá; hoje não sonha com o regresso definitivo a um país que deixou há tanto tempo, com o qual sente pouca ligação e do qual guarda poucas, talvez amargas, memórias.
A emigração de hoje é diferente: se há muita gente que parte com o síndroma do coitadinho, “vou-me porque este país não tem nada para mim”, muitos há que partem com vontade de conhecer o mundo, abrir asas, aprender e ganhar novas experiências. E depois voltar.
Por isso, apesar de todo o negrume do panorama nacional, acho que hoje o nosso país está bem melhor do que há umas décadas atrás. E nós, portugueses, temos preparação e conhecimentos de nível internacional e ambição para querer subir na vida.
Por isso, deixemo-nos de lamentos e de tristezas: a emigração é uma escola de vida, o mundo é grande e há muitas amizades lá fora à espera de serem feitas. Para quem fica, façamos de Portugal não o país que “temos”, mas aquele que queremos, com o nosso trabalho, o nosso esforço, a nossa imaginação. Melhores tempos virão: estamos a construí-los cada dia, todos os dias.
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)