Esta foi a minha primeira semana no meu novo atelier. Três meses depois da chegada a Lisboa, finalmente sinto que começo a instalar-me. Na minha vida ainda há caixotes um pouco por todo o lado, mas decidi que não seriam esses (não muito) pequenos detalhes que me retirariam esta sensação de, finalmente, estar a estabelecer uma rotina na minha nova cidade.
Esta manhã, cheia de sol mas ainda fresca, trabalhava sentada, de janela aberta, quando comecei a ouvir gaivotas. Não foi imediato: comecei a ouvi-las, senti que era Verão, que estava na praia, a brisa do mar a bater-me na cara.
Mas não: estava sentada a trabalhar, no meu atelier, num dos projectos que tenho em mãos. Olhei pela janela aberta e vi uma gaivota pousada no telhado em frente. Nas suas tarefas de gaivota, comunicava com uma companheira, pousada noutro canto do telhado. O seu gaivotês despertou em mim uma memória de Verões anteriores; com ela, uma sensação de descanso, relaxamento, frescura, lazer.
Comecei a pensar em como se deve estar bem na praia, calor mas não demasiado, passeios à beira-mar, um gelado comido antes de mais um banho.
Não sei exactamente porquê, mas o meu pensamento inverteu-se. De repente dei por mim a pensar que em vez de longe e impossível era aqui, no meu novo atelier, com estas gaivotas a gritar e com este mesmo projecto que tenho em mãos, uma ilustração bordada que me traz imensa alegria… é exactamente aqui que quero estar.
Foi uma boa sensação.
E vocês? Aqui e agora, ou lá longe e impossível?
(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)